Redação Voz da Terra
O governo federal anunciou a conclusão do processo de desintrusão da Terra Indígena (TI) Karipuna em julho. Apesar disso, os Karipuna de Rondônia já observam a presença de invasores em seu território, além do aumento de incêndios e da deterioração da qualidade do ar.
As ações para remover não indígenas da TI Karipuna começaram em junho e envolveram a colaboração de mais de 20 órgãos federais. De acordo com a Casa Civil, foram planejadas 152 ações ao todo. Em janeiro, líderes Karipuna expressaram preocupações sobre a presença de invasores em busca de minérios e, em abril, relataram a construção de casas por não indígenas na Terra Indígena.
Um desafio importante no combate a crimes em territórios indígenas é a existência de múltiplas entradas. Durante o processo de desintrusão, quatro acessos clandestinos foram eliminados. O governo federal prometeu manter a presença de efetivos da Força Nacional e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) na área.
Após a expulsão dos invasores, o governo informou que a plataforma Rede Brasil Mais, do Ministério da Justiça, indicou o fim do desmatamento na TI Karipuna entre junho e julho. A comparação entre 2022 e 2023 mostra uma redução significativa nos alertas sobre desmatamento, passando de 160 para 20 nos meses citados.
Entretanto, os incêndios se tornaram uma preocupação crescente. Dados da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental (Sedam) apontam que, entre 1º e 16 de setembro, Rondônia registrou mais de 13 mil focos de calor, sendo Porto Velho a cidade mais afetada. A TI Aripuanã e a TI Roosevelt também enfrentam problemas críticos.
Lideranças Karipuna relataram que a Polícia Militar está atuando no combate a incêndios nas áreas adjacentes à TI, como o Parque Estadual de Guajará-Mirim. A dificuldade de acesso em certas regiões complica as ações dos agentes. O governo estadual lançou a Operação Temporã, envolvendo cerca de 300 profissionais de diversas corporações para lidar com os incêndios.
Reconhecendo a responsabilidade do agronegócio na elevação das queimadas, a Sedam anunciou a suspensão da autorização para o uso de fogo controlado por 90 dias. Essa prática, embora tradicional em várias regiões do Brasil, deve ser realizada de maneira segura para evitar incêndios florestais.
Uma liderança Karipuna criticou a falta de uma equipe dedicada para proteger a TI. Embora reconheça a mobilização das autoridades, expressa frustração com a incapacidade de controlar os incêndios, afirmando que a luta contra as chamas requer mais do que apenas monitoramento.
Além disso, a TI Karipuna tem um histórico de desmatamento significativo, com a perda de 4.754 hectares entre 2015 e 2021, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A crise hídrica agrava essa situação, com o Rio Madeira apresentando níveis críticos, abaixo de 1 metro, uma queda em relação aos 2,04 metros registrados em 2023.
A mudança nos padrões de chuva, especialmente nos meses de agosto e setembro, gera preocupação entre as lideranças Karipuna. Há 10 ou 15 anos, as chuvas começavam a aparecer entre novembro e dezembro, mas agora a situação se alterou drasticamente.
A liderança sugere uma revisão do orçamento destinado aos estados do Norte, para garantir que todos recebam apoio adequado em momentos de crise. A percepção é de que apenas Amazonas e Pará recebem a devida atenção, questionando a falta de assistência a Rondônia. O governo estadual alocou R$ 19 milhões para combater as queimadas.
Reportagem entrou em contato com o Ministério dos Povos Indígenas e da Funai mas não obteve retorno.