Eleições na Amazônia expõem falta de políticas de enfrentamento às mudanças climáticas

Reportagem é uma parceria do Voz da Terra com a Carta Amazônia.
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Voz da Terra
4 dezembro 2024
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Propostas de proteção da Amazônia não foram prioridades nas eleições de 2024. (Foto: Freepik)

Por:
Eraldo Paulino e Daniel Vinagre – Agência Carta Amazônia (Pará)
Isaque Santiago e Vanessa Vieira – Correio do Lavrado (Roraima)
Francisco Costa – Voz da Terra (Rondônia)

A Amazônia enfrenta um de seus períodos mais críticos diante das mudanças climáticas, com secas históricas, recordes de queimadas e pressão internacional pela preservação do bioma.

O Amazonas passou pela pior seca em mais de 120 anos; o Acre vivenciou eventos climáticos extremos, com enchente e seca no mesmo ano; no Pará, houve aumento do desmatamento em áreas estratégicas, ao ponto de Santarém ser considerada a segunda cidade mais poluída do mundo na última sexta (29); e em Roraima, os incêndios e a fumaça também prejudicaram a saúde respiratória da população.

Apesar da gravidade da crise ambiental, as eleições municipais na Amazônia evidenciaram uma desconexão entre a urgência climática e as propostas apresentadas, tanto por candidatos eleitos quanto pelos que não obtiveram êxito no pleito.

Candidaturas explícita ou veladamente apoiadoras de megaprojetos, como mineradoras, hidrelétricas e pró-exploração de petróleo, além de aliados do agronegócio, obtiveram êxito. Considerados partidos que historicamente apoiam ou dialogam com entidades ambientalistas, o PSOL perdeu a única capital que comandava, Belém, o PT conquistou apenas 7 prefeituras; o PV e a Rede apenas 1, ou seja, apenas 9 das 450 cidades da Região Norte.

Assim, 98% das cidades do Norte serão comandadas pelo centrão ou pela direita nos próximos quatro anos. Se formos falar da polarização PT x PL, o partido de Bolsonaro vai governar 21 municípios, sendo uma capital, Rio Branco (Tião Bocalom) e uma das principais cidades do Pará, Marabá, mas foi derrotado por aliados do PT em cidades importantes, como Manaus (AM), Belém e Santarém (PA). Já o partido de Lula não governará nenhum grande polo regional.

Ou seja, na Amazônia, se formos considerar os próximos quatro anos de governo, quem vai pautar a questão ambiental e outras políticas serão o centrão, a direita, o agronegócio e as mineradoras que financiaram essas candidaturas.

Mas, mesmo entre os partidos que historicamente dialogam com ambientalistas, a preservação ambiental nem sempre é prioridade. Foi no governo federal do PT, por exemplo, que a usina hidrelétrica Belo Monte foi construída no rio Xingu, sob protestos de comunidades tradicionais, nações indígenas e ambientalistas, algo que nem mesmo a Ditadura Militar havia conseguido, na década de 80. Atualmente senador pelo PT, o ex-Rede e PSOL Randolfe Rodrigues é um dos maiores apoiadores da exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.

Sede da COP30 sem discussões sobre clima

Nas eleições para a Prefeitura de Belém, capital paraense que vai sediar a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro de 2025, os dois principais candidatos na disputa pouco falaram sobre o encontro, que discutirá, dentre outros assuntos, a preservação de florestas e impactos sociais das mudanças climáticas.



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