Hidrelétricas devem reparar comunidades atingidas por impactos socioambientais

Recomendações para políticas públicas voltadas para os impactados por barragens na Amazônia brasileira.
Compartilhe no WhatsApp
Voz da Terra
10 janeiro 2025
0
Hidrelétrica Santo Antônio em Porto Velho - RO (Divulgação)

Redação Voz da Terra

Um estudo abrangente, conduzido entre 2013 e 2025 pelo projeto SPEC-FAPESP, investigou os impactos sociais e ambientais das usinas hidrelétricas de Santo Antônio, Jirau (no rio Madeira, em Rondônia) e Belo Monte (no rio Xingu, no Pará). 

Liderado pelo professor Emilio Moran (Unicamp/MSU) e apoiado por uma equipe multidisciplinar de diversas instituições brasileiras e internacionais, o estudo destaca os graves efeitos das barragens na Amazônia e propõe recomendações para aprimorar políticas públicas e medidas de mitigação baseadas em evidências científicas e nas vivências das comunidades impactadas.

Entre os impactos documentados, destacam-se a transformação irreversível dos modos de vida das comunidades ribeirinhas, perdas no setor pesqueiro e agrícola, e a degradação ambiental em larga escala. 

Além disso, este documento enfatiza que todos os setores do rio (montante, reservatório e jusante) são impactados pelas barragens e, portanto, seus moradores devem ser atendidos por políticas públicas condizentes com tais impactos.

As recomendações são fruto de consulta e colaboração junto às comunidades impactadas nos estados de Rondônia e Pará. Veja abaixo as principais recomendações:

Reparação às comunidades impactadas

Subsidiar tarifas de energia elétrica para os impactados;

Apoiar o planejamento e desenvolvimento de atividades econômicas que visem à valorização das culturas locais;

Desenvolver projetos de mitigação planejados de forma integrada.

Reparações específicas para pescadores

Incentivar e mediar estabelecimento de acordos de pesca para a proteção e inclusão dos pescadores tradicionais;

Criar planos para o manejo de peixes em lagos e rios afluentes para a recuperação das populações e relações ecossistêmicas de peixe;

Alocar áreas de preservação permanente laterais e a montante dos reservatórios para permitir que as populações de peixes tenham áreas de refúgio para reprodução e a manutenção da pesca em longo prazo.

Reparações específicas para agricultores

Capacitar e treinar agricultores locais para a realidade gerada pela construção de uma hidrelétrica;

Estabelecer um programa de uso da terra participativo para manter os modos de vida das populações impactadas localizadas nas áreas ribeirinhas;

Estimular as agroindústrias familiares e cooperativas para o beneficiamento e comercialização de produtos locais.

Preservação e recuperação ambiental

Expandir áreas de proteção ambiental próximas às hidrelétricas;

Implementar programas de restauração florestal em áreas alagadas, várzeas e matas ciliares;

Reconhecer a presença de Unidades de Conservação como um impedimento institucional para a construção de um barragens.

Outras sugestões do documento incluem uma maior participação popular no processo de construção de novas hidrelétricas, incluindo o direito de veto à construção de barragens a partir de audiências e consultas públicas, e garantia de responsabilização pelo não cumprimento dos acordos prévios.

Além disso, o documento recomenda que a construção de novas hidrelétricas de grande porte na Amazônia deve ser evitada, uma vez que seus impactos socais e ambientais não são compensados e nem podem ser relativizados pelo desenvolvimento regional e produção de energia.

Por fim, este documento reafirma a urgência de estratégias energéticas mais sustentáveis. Reforça, ainda, o papel crucial de um trabalho conjunto entre as comunidades locais, pesquisadores e instituições de ensino e pesquisa no oferecimento de subsídios à formulação de políticas públicas para um futuro energético ambiental e socialmente responsável do país.


Siga no Google News

Postar um comentário

0Comentários

Postar um comentário (0)

#buttons=(Ok, estou ciente!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar a experiência de navegaçãoSaiba Mais
Ok, Go it!