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A rodovia que divide opiniões: enquanto a pavimentação avança, especialistas alertam para o aumento do desmatamento e a pressão sobre comunidades tradicionais (Foto: Puré Juma) |
Redação Voz da Terra
O desmatamento na BR-319 aumentou 85,2% entre setembro e dezembro de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. O crescimento do desmatamento ocorre após a visita de Lula ao Amazonas, em setembro de 2024, quando o presidente defendeu a pavimentação da rodovia. Embora Lula tenha afirmado que a obra ocorreria sem desmatamento e grilagem, especialistas apontam que sua declaração gerou um "efeito boiada", incentivando a especulação fundiária, a derrubada da floresta e os incêndios ilegais.
Foram analisados os dados do desmatamento na área de influência da BR-319, formada por 13 municípios, com base no Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Ambiente (Imazon).
O impacto foi ainda mais expressivo em outubro de 2024, mês seguinte à visita e ao discurso de Lula. O desmatamento nos municípios da BR-319 disparou 386% em relação a outubro de 2023, em meio ao período eleitoral e à detecção de novas aberturas de ramais, segundo o Observatório da BR-319. Na Amazônia Legal, o aumento foi de 13%, enquanto no Amazonas chegou a 71%.
“Não podemos deixar duas capitais isoladas”, afirmou Lula em referência à pavimentação do trecho do meio que possui 400 quilômetros e fica intransitável durante o período de chuvas. A estrada tem 918 quilômetros, e possui praticamente o mesmo tamanho que a Noruega. Construída pelo regime militar na década de 1970, ela passou a ser prioridade do governo federal após a seca histórica que atingiu os rios amazônicos.
Os dados de aumento contrastam com a tendência de queda registrada nos 12 meses anteriores. Entre agosto de 2023 e julho de 2024, o desmatamento na Amazônia teve uma redução de 30,6% – a maior dos últimos 15 anos, segundo o Instituto Socioambiental (ISA). No entanto, após a visita presidencial, esse cenário mudou, com o desmatamento na BR-319 acelerando nos últimos meses de 2024.