Voz da Terra e InfoAmazônia
Um estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil mostra uma epidemia silenciosa na região Norte causada pela falta de saneamento básico. Segundo o levantamento, mais de 46 mil crianças de até 6 anos já foram internadas na região devido a doenças provocadas pela ausência de água potável e coleta de esgoto.
Os estados nortistas apresentam um cenário precário de saneamento básico, com cerca de 6 milhões de habitantes sem acesso à água potável e quase 15 milhões sem coleta de esgoto. Além disso, apenas 19,8% do esgoto gerado é tratado.
A pesquisa revelou que Pará é o estado com o maior número de hospitalizações, com mais de 23 mil casos de crianças adoecidas. Em seguida, o Amazonas teve quase 10 mil internações, e Rondônia registrou mais de 4 mil. Os dados têm como base o Ministério da Saúde, ano-base 2022.
“A alta incidência dessas doenças leva ao afastamento das crianças de suas atividades rotineiras, criando condições desfavoráveis para seu desenvolvimento físico e cognitivo. Esses efeitos também aumentam significativamente o risco de vida durante a primeira infância. Crianças que passam a primeira infância em condições inadequadas de saneamento enfrentam desvantagens em relação àquelas que vivem em residências com saneamento adequado” explica Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil.
Quem vive sem acesso ao saneamento básico enfrenta dificuldades em manter hábitos de higiene corporal e de alimentos, ações que reduzem de forma eficaz a incidência de doenças. A exposição a enfermidades é maior em áreas onde o saneamento é inadequado, como ruas com esgoto a céu aberto ou moradias próximas a córregos e rios poluídos.
“Na região norte, a diferença de escolaridade média entre quem tem acesso ao saneamento e quem não tem é de quase 2 anos. Ou seja, criança que tem saneamento na sua casa, ela vai estudar quase 2 anos a mais do que a criança que não tem acesso ao saneamento. Isso vai impactar na possibilidade de entrada numa faculdade, na renda média futura e no desenvolvimento econômico social de toda essa região”, afirma Luana.
A pesquisa destaca que quanto maiores os acessos à água tratada e canalizada e à coleta de esgoto, menores as chances de afastamento por doenças de veiculação hídrica ou respiratórias. “A universalização do saneamento é essencial para garantir o desenvolvimento saudável e seguro de crianças nessa fase da vida”, ressalta a gestora do instituto.