Opinião - Big techs: poder econômico livre para excluir

Sem o combate às fake news e aos discursos de ódio, a ‘liberdade’ promovida por Trump e big techs vira instrumento de opressão.
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Voz da Terra
6 fevereiro 2025
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O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, Lauren Sanchez, o empresário americano Jeff Bezos, o CEO da Alphabet Inc. e Google, Sundar Pichai, e o CEO da Tesla e SpaceX, Elon Musk, participaram da cerimônia de posse de Donald Trump (Foto por Julia Demaree Nikhinson / POOL / AFP) (Julia Demaree Nikhinson/AFP)

Redação Voz da Terra

A disputa pelo conceito e pela definição de liberdade de expressão alcançou novo patamar. Desde que Elon Musk adquiriu o Twitter, justificando a compra como defesa da liberdade de expressão, outros bilionários seguem a mesma direção. 

O movimento revela um alinhamento claro entre as oligarquias tecnológicas, que usam seu poder para desmontar instrumentos destinados a preservar os limites e as garantias da liberdade de expressão, impondo suas próprias interpretações de liberdades e interesses.

O evidente acordo político e econômico com o autoritarismo se afirmou numa imagem: Mark Zuckerberg, da Meta, Elon Musk, do X, Sundar Pichai, do Google, Tim Cook, da Apple, Jeff Bezos, da Amazon, Shou Zi Chew, do TikTok, e Sam Altman, da Open AI, reunidos em lugar de destaque na posse de Donald Trump. Por meio de discursos e decretos, Trump enfatizou que sua luta será ferrenha na disputa pela “liberdade de expressão”.

Do mesmo modo que Trump afirmou trabalhar para parar imediatamente com o que chamou de “censura governamental e trazer de volta a liberdade de expressão”, a Meta — dona de Facebook, Instagram e WhatsApp — implementou novas políticas em sua plataforma. Mais uma vez, a liberdade de expressão é sequestrada e distorcida em nome de interesses econômicos e da promoção do poder da extrema direita.

As mudanças na Meta seguem o alinhamento com a agenda de desregulamentação digital pretendida por Trump. O desafio agora é denunciar amplamente que a ideia de “livre expressão” defendida pelos bilionários das redes sociais não significa somente a remoção de ferramentas essenciais de verificação e o afrouxamento das regras contra discurso de ódio, mas sobretudo uma cruzada contra valores essencialmente democráticos.

É importante destacar que o fim do programa de checagem de fatos simboliza o enfraquecimento de uma ferramenta crucial para desmentir boatos e narrativas falsas. Em seu lugar, as notas de comunidade são vulneráveis a manipulação, sobretudo num contexto de profunda polarização.

Precisamos que governos e organizações da sociedade civil intensifiquem as discussões sobre a regulamentação das plataformas digitais e assumam um compromisso global na disputa pelo conceito de liberdade de expressão.

Como sociedade, é urgente retomarmos o controle do debate público, garantindo que seja regido não pela manipulação e pelo interesse de poucos, mas pelo interesse coletivo. Se não agirmos agora, a liberdade de expressão, entendida como um dos pilares das democracias fortes, deixará de existir. Qualquer ambiente informacional num mundo globalizado necessita ser regulado.

Sem o combate às fake news e aos discursos de ódio, a “liberdade” promovida por Trump e CEOs de big techs se torna um instrumento de opressão e exclusão, gerando apenas mais violência, perseguição, aprofundamento da vulnerabilidade de populações e das violações de seus direitos fundamentais. Sem ações concretas e efetivas agora, a consequência será óbvia: a erosão das democracias de todo o mundo.

Dyego Pegorario, sociólogo, é coordenador de articulação da área de Jornalismo e Liberdade de Expressão do Instituto Vladimir Herzog.


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