Homens armados bloqueiam circulação de trabalhadores rurais em Boca do Acre

Trabalhadores rurais alegam que foram intimidados e ameaçados por seguranças de fazendeiros que estavam armados.
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Voz da Terra
5 março 2025
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Homens de pretos estavam em grupos e com armas (Foto: CPT)

Redação Voz da Terra - No coração da região conhecida como Amacro, o seringal Entre Rios, em Boca do Acre, volta a ser palco de disputas agrários. Na última terça-feira (25), famílias posseiras foram surpreendidas pela presença de seguranças armados dentro do território, impedindo a circulação de moradores e trabalhadores. Os posseiros acreditam que o grupo foi contratado por um fazendeiro interessado na área, intensificando o clima de tensão na região.

Diante da ameaça, as famílias acionaram a Comissão Pastoral da Terra (CPT) para intermediar o diálogo. Questionados sobre a ordem de permanência no local, os homens armados alegaram estar cumprindo uma determinação federal para fiscalização ambiental. 

No entanto, não apresentaram documentos que comprovassem a atuação oficial nem identificaram vínculo com órgãos como Ibama ou ICMBio. As famílias relataram que, além de barrar a passagem, os seguranças exigem informações pessoais e iniciaram a construção de uma guarita para controlar a entrada e saída de pessoas no seringal.

Com mais de 40 famílias vivendo no território desde os anos 1990, o seringal Entre Rios é um símbolo da luta pela terra na região. A ocupação de quase quatro décadas tem sido marcada por tentativas de expulsão e histórico de violência, incluindo ações de pistolagem. 

Segundo um representante da CPT no Acre, que acompanha o caso pela proximidade geográfica, a presença dos homens armados é uma estratégia para intimidar os posseiros e facilitar a expansão de grandes propriedades. "A comunidade resiste e não pretende abrir mão de seu direito à terra", afirmou.

Amacro: desenvolvimento ou território de conflito?

Boca do Acre integra a Amacro, uma região que abrange partes do Amazonas, Acre e Rondônia e foi anunciada como um modelo de desenvolvimento sustentável. Na prática, tem sido um dos epicentros de grilagem, desmatamento e disputas de terras.

Dados do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da CPT, mostram que, no primeiro semestre de 2024, a violência no campo aumentou na Amacro, contrariando a tendência nacional de queda. 

Entre janeiro e junho, foram registradas 10 ameaças de morte, 9 casos de criminalização e 7 episódios de intimidação na região. Os posseiros são as principais vítimas, enquanto fazendeiros figuram como os maiores responsáveis pelos ataques.

Os casos de grilagem cresceram 117% em relação ao mesmo período do ano anterior, passando de 6 para 13 ocorrências. A pistolagem também disparou: em 2023, haviam sido registrados 2 casos no primeiro semestre; em 2024, o número saltou para 11, um aumento de 450%.

A comunidade do seringal Entre Rios teme pelo próprio futuro. Com o apoio da CPT, as famílias estão formalizando denúncias aos órgãos competentes, mas a resposta do Estado é lenta, enquanto as ameaças crescem. 

A paralisação da política de reforma agrária agrava ainda mais o cenário, deixando os posseiros expostos à violência de um modelo de expansão fundiária que ignora direitos e transforma o campo em palco de conflitos constantes.

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