VOZ DA TERRA - Famílias camponesas da área Gedeon José Duque, localizado em Machadinho do Oeste, interior de Rondônia, denunciam uma escalada de violência armada promovida por pistoleiros e policiais militares.
Os relatos apontam ações sistemáticas de destruição de bens, perseguições, prisões sem mandado judicial e uso de helicópteros e tratores para desmobilizar ocupações de terra.
As denúncias foram formalizadas pela Associação Brasileira dos Advogados do Povo (ABRAPO) e pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (CEBRASPO) após missão de solidariedade realizada entre os dias 12 e 13 de abril de 2025.
Segundo as entidades, camponeses foram surpreendidos por ataques iniciados no dia 9 de abril. Homens armados invadiram a área, disparando contra moradores, incendiando barracos, matando animais e destruindo plantações. Famílias inteiras, incluindo mulheres e crianças, fugiram por áreas de mata para escapar dos ataques.
Gesulino Castro foi apontado como chefe da pistolagem
De acordo com os camponeses, os ataques estariam sendo liderados por Gesulino Cesar Travagine Castro, que já foi condenado a mais de 30 anos de prisão pela "Chacina de Buritis", ocorrida em 2012.
O histórico de Gesulino inclui envolvimento em homicídios, uso de armamento ilegal e atuação como pistoleiro a serviço de latifundiários da região de Ariquemes, Cujubim e Machadinho.
Durante os ataques, Gesulino teria publicado vídeos em redes sociais, exibindo a destruição de estruturas da comunidade Gedeon e se vangloriando da instalação de cercas na área.
Um dos seus supostos subordinados, identificado como Diógenes, foi reconhecido por camponeses como autor de um disparo que feriu um trabalhador. Nenhuma prisão foi efetuada até o momento.
Ações policiais sem ordem judicial e prisões em massa
No dia 10 de abril, segundo os relatos, pistoleiros invadiram a área vizinha de Gonzalo e agrediram moradores, incluindo um casal de idosos. Também nesse dia, a Polícia Militar teria invadido parte da Área Valdiro Chagas, alegando busca por camponeses da Gedeon.
Em 11 de abril, uma megaoperação da PM resultou na prisão de 26 camponeses no acampamento São Francisco, em Nova Mutum, Porto Velho. Não havia ordem judicial para a ação. Relatos apontam que latifundiários teriam acompanhado a operação, orientado prisões e confiscos. Mulheres foram obrigadas a cozinhar para os policiais. Todos foram libertados após atuação jurídica da ABRAPO.
Missão de solidariedade e assembleia popular
Durante a missão realizada pelas entidades e apoiadores da luta camponesa — incluindo professores da UNIR, estudantes e pesquisadores — foram colhidos relatos, documentos e imagens para um relatório que será enviado a instâncias nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos.
No dia 13 de abril, camponeses realizaram uma Assembleia Popular em homenagem aos Heróis do Povo Brasileiro. Mais de 130 pessoas participaram do ato. As famílias reafirmaram o compromisso de permanecer na terra e denunciaram o conluio entre latifundiários, pistoleiros e forças policiais. Cantos de resistência e leitura de manifestos marcaram o encontro.
Violência segue sem resposta institucional
Mesmo com a gravidade dos fatos e a ampla documentação das denúncias, nenhuma autoridade estadual dos poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário se manifestou publicamente sobre os ataques. Camponeses seguem relatando presença constante de viaturas, helicópteros e caminhonetes circulando na região, além de novos episódios de intimidação.
Entidades como ABRAPO e CEBRASPO cobram providências imediatas e pedem o envio de denúncias ao Conselho Nacional de Direitos Humanos, Ministério Público Federal e Ouvidoria Agrária Nacional.