Rodovia entre Acre e Peru ameaça meio ambiente e povos da floresta

Região é um corredor de crimes e exportações do mercado brasileiro e amazônico.
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Voz da Terra
2 maio 2025
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Parque Nacional da Serra do Divisor. (Foto: Pedro Devani/Secom Ac)

Redação Voz da TerraEm reunião realizada em Brasília com o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, o governo do Acre voltou a apresentar a construção da estrada entre Cruzeiro do Sul e Pucallpa, no Peru, como pauta prioritária para a integração logística entre o Brasil e o mercado asiático. 

A proposta, defendida pelo secretário de Indústria, Assurbanípal Mesquita, tem como justificativa a criação de um novo corredor para exportação de commodities, encurtando o caminho até o Oceano Pacífico por meio do Porto de Chancay, financiado pela China.

Embora tenha ficado de fora da Rota Quadrante Rondon — programa do governo federal para integrar modais de transporte na América do Sul — a estrada segue sendo defendida como alternativa estratégica pelo governo Gladson Cameli. 

O discurso é semelhante ao que sustentou a construção da Interoceânica, rodovia que liga o Acre ao Peru desde o início dos anos 2000, mas que não se firmou como rota viável para o escoamento de cargas devido às dificuldades impostas pela Cordilheira dos Andes.

Desta vez, o trajeto entre Cruzeiro do Sul e Pucallpa é promovido como opção mais curta, com menor interferência de relevo montanhoso. 

No entanto, o empreendimento enfrenta resistência de organizações indígenas, ambientalistas e do Ministério Público Federal, que apontam riscos à integridade da floresta e das comunidades locais. O traçado atinge áreas de floresta densa, unidades de conservação e territórios indígenas onde vivem povos isolados.

Em 2021, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) tentou iniciar os estudos de viabilidade da estrada, mas o processo foi barrado por decisão judicial. 

A ação foi movida por entidades da sociedade civil e reforçada pelo MPF, que alertou para a ausência de consulta às populações afetadas, como determina a Convenção 169 da OIT e a legislação ambiental brasileira.

Além disso, houve tentativa de transferir o licenciamento ambiental do Ibama para o Imac, órgão estadual sob forte influência política, o que foi interpretado como tentativa de driblar exigências técnicas. A fronteira entre Brasil e Peru, nos vales do Juruá e do Javari, abriga uma das maiores concentrações de indígenas isolados do mundo e apresenta altíssima biodiversidade.

Representações indígenas divulgaram manifestos contra o projeto, argumentando que estradas na região costumam abrir caminho para desmatamento, grilagem, conflitos fundiários e exploração ilegal de recursos. Segundo eles, o desenvolvimento prometido raramente se concretiza para as populações locais, que acabam empurradas para a informalidade e a marginalização.

Apesar da mudança de postura do governo federal desde a posse de Lula, o projeto da estrada ainda ronda os bastidores como possibilidade concreta, sobretudo diante do avanço chinês em infraestrutura no Pacífico e do cenário de disputa comercial com os Estados Unidos.

A persistência da proposta revela um conflito entre os discursos de preservação ambiental e os interesses logísticos voltados à exportação. Para que não se transforme em novo vetor de destruição, o debate sobre essa estrada exige transparência, participação pública e respeito aos marcos legais e sociais que regem o uso do território amazônico. Com informações do site Varadouro.


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