Francisco Pianko, líder dos povos indígenas Ashaninka no Acre (Arquivo pessoal)
O
líder indígena ashaninka, Francisco Piyãko participou no
domingo,26, de uma palestra na Universidade de Oxford em um painel
sobre economia da Amazônia durante o evento Brazil Forum UK. Na
ocasião, Francisco se encontrou conversou ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, sobre os riscos que as
comunidades da Amazônia vêm sofrendo.
A liderança acreana tem apontando a importância da organização social para a garantia de qualidade de vida, a partir da experiência de sucesso em gestão junto ao povo Ashaninka, que após muitas lutas e trabalho, são capazes de uma gestão total do território, mantendo aspectos da vida tradicional e cultural em diálogo com o mundo moderno.
No início de sua fala, Piyãko lembrou as mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips e do assassinato de indígenas do povo Guarani, durante uma ação ilegal de despejo em Amabaí-MS.
Para Francisco, a criação de uma economia próspera na Amazônia passa por uma relação de respeito e diálogo com os povos indígenas e ribeirinhos que vivem na Amazônia e tiram dela seu sustento. Ele afirma que é necessário compreender os conceitos dos povos tradicionais de produção, coletividade e de qualidade de vida.
“Talvez nossos valores não estejam sendo entendidos, como nós também, às vezes, não entendemos os valores do homem branco. Não entendo por exemplo o valor do ouro. E com isso estão destruindo os rios, a floresta. Talvez quando vocês começarem a entender vão perceber que nossos valores estão mais aperfeiçoados para viver nesse mundo”, disse Francisco.
Segundo Piyãko, ao invés de concentrar cada vez mais a população em bolsões de pobreza nas grandes cidades, dar condições para o habitante da floresta continuar vivendo ao seu modo, mas rompendo o isolamento com o acesso às tecnologias.
“Muitas vezes a gente é compreendido como atraso, por não estar contribuindo na receita do estado como produtores. Esses conceitos têm um impacto em afirmar que a vida na cidade está mais avançada. Com isso estamos deixando nossos modos, que entendemos ser mais apropriados diante dos desafios atuais, para ir para a periferia das grandes cidades. E essas cidades buscam apagar quem somos, nossos modos de vida que oferecem segurança e qualidade de vida. Talvez o grande desafio seja fazer um caminho inverso”, explicou.
Uma das ênfases dadas por Francisco durante a palestra foi justamente sobre o papel da Ciência e da Universidade na compreensão mútua de diferentes pontos de vista, e na construção de um novo amanhã, de prosperidade compartilhada.
“A universidade tem um papel importante para ajudar nesse diálogo entre a ciência e os conhecimentos tradicionais. A ciência não pode ser apenas um instrumento na mão dos poderosos, o que acaba trazendo mais pobreza para a sociedade. Nessa pandemia vimos a ciência se unir para tentar solucionar um problema grave, por isso conto muito com a ciência para dialogar com a nossa sabedoria para tentar salvar esse planeta”, concluiu.
Mudanças na Política
Uma tônica do painel foi sobre os problemas gerados pela gestão do atual presidente Jair Bolsonaro. Uma percepção geral é de que a fragilização dos órgãos ambientais, somadas às falas muitas vezes preconceituosas e agressivas do atual presidente, sinaliza como uma carta branca para a invasão de territórios indígenas por grupos que atuam à margem da lei através de garimpo e extração ilegal de madeira, caçadores e pescadores entre outros.
“O que aconteceu com Dom e Bruno não é um caso isolado. Tem acontecido em muitos territórios indígenas no Brasil. Indígenas representam apenas 5% da população mundial e protegemos 80% da biodiversidade do mundo”, disse Txai Suruí, liderança indígena de Rondônia.
Por fim, Txai Suruí reafirmou a necessidade de uma mudança no Congresso Brasileiro. “Não basta trocar esse presidente, temos que mudar o Congresso. Muito do que está acontecendo é culpa do Congresso, por isso temos que colocar pessoas diferentes lá, isso significa votar em pessoas indígenas, mulheres, LGBT, do movimento negro. Só assim a gente vai mudar realmente nosso Brasil e trazer soluções diferentes”, concluiu.