Fogo tomou conta de todo acampamento (Divulgação) |
Cerca de 82 famílias do acampamento Terra Prometida tiveram suas casas queimadas nesta quarta-feira (06) na linha C-38 que fica na zona rural da cidade de Theobroma, distante 236 quilômetros de Porto Velho (RO).
Casas e barracões foram destruídos pelo fogo com parte da mobília. Ninguém sofreu ferimentos e não há pistas dos incendiários.
A ação teria sido coordenada por fazendeiros locais que disputam uma área de terra, segundo os trabalhadores. Crianças e mulheres estão dormindo expostos à chuva e ao frio. Mesmo assim resistem e continuam no local, dispostos a enfrentar pistoleiros armados que podem surgir em um segundo ataque.
Vídeos, fotos e relatos de áudio foram compartilhados nas redes sociais narrando o desespero das famílias que não sabem o que fazer e para onde ir. Todos são trabalhadores rurais que sobrevivem da agricultura familiar.
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O conflito é antigo. Trabalhadores em 2013 pediram que o então prefeito de Ouro Preto do Oeste, Alex Testoni, ajudasse no repasse da terra para reformar agrária. Mas o prefeito, alegou que o território pertencia ao seu irmão Helder Testoni. Quatro dias depois, dessa conversa, a polícia militar executou uma reintegração de posse.
A terra em litígio é reivindicada no espólio dos familiares de Wilmar Antônio Testoni, que seria dono da fazenda Bom Futuro que fica linha 603, km 20 na cidade. Mas de acordo com os acampados, o território pertence ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e possui cerca de 1.238 mil hectares.
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No mais recente caso, uma liminar de reintegração de posse foi expedida no dia 05 de maio de 2022 pelo juiz da 1ª Vara Cível da Comarca de Jaru, determinando a retirada das famílias do local. Só que os trabalhadores não foram informados e antes de saírem da área, foram vítimas de um incêndio criminoso.
A Associação de pequenos agricultores Terra Prometida acionou advogados na tentativa de suspender o despejo e pediram ajuda da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Rondônia e Defensoria Pública.
A ideia seria impetrar uma ação judicial alegando que o ministro Luís Roberto Barroso do Supremo Tribunal Federal (STF), prorrogou os despejos durante a pandemia até o fim de outubro deste ano.
Em 2022, até maio, 19 pessoas foram assassinadas em conflitos no campo no Brasil, segundo mostra um relatório preliminar do Centro de Documentação da Comissão Pastoral da Terra (Cedoc-CPT).
Em Rondônia, mais de 15 pessoas foram assassinadas por causa de conflitos no campo nos últimos três anos.
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O trabalhador rural Wesley Flávio da Silva, 37 anos de idade, foi assassinado por volta das 9h da sexta-feira (17 de junho de 2022) no projeto de assentamento Nova Esperança, localizado na divisa dos municípios de Campo Novo com Governador Jorge Teixeira, distante 322 quilômetros de Porto Velho (RO).
Wesley era presidente da Associação de Produtores Rurais Nova Esperança há menos de um ano. Ele foi morto com tiros na cabeça e em outras áreas do corpo. Ainda não há pistas dos criminosos. Wesley brigava pela posse de terra com fazendeiros e já tinha ameaçado.
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