Estradas não oficiais revelam caminhos do desmatamento na Amazônia

De acordo com o estudo, 55% das estradas estão localizadas em terras privadas e 25% em áreas públicas não destinadas.
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FRANCISCO COSTA
25 agosto 2022
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Um labirinto na vegetação evidencia uma complexa rede de estradas ilegais que avança floresta adentro na Amazônia, intensificando a derrubada de suas árvores e a exploração ilegal de seus recursos naturais.

Na Folha, Giovana Girardi trouxe os dados de um estudo recentemente publicado na revista Remote Sensing, que utilizou inteligência artificial para mapear os caminhos abertos na floresta. O resultado é impressionante: a pesquisa identificou 3,46 milhões de km de estradas cortando a Amazônia Legal, sendo que mais de 3 milhões não são vias oficiais.

De acordo com o estudo, 55% das estradas estão localizadas em terras privadas e 25% em áreas públicas não destinadas. O restante é dividido entre assentamentos rurais (12%), Unidades de Conservação federal e estadual (5%) e Terras Indígenas (2,6%).

“Do que temos de remanescente de floresta na Amazônia [3,1 milhões de km2], 41% estão cortados com alguma estrada. Essas são as áreas com maior risco de desmatamento”, alertou o pesquisador Carlos Souza Jr., do Imazon, coordenador da pesquisa.

As estradas são sintoma e causa do desmatamento na Amazônia. Seu surgimento mostra as áreas que estão entrando no radar de grileiros e outros criminosos para derrubada da floresta e limpeza do terreno. Na medida em que estas se consolidam, criam-se as bases para a perpetuação da destruição florestal, com as estradas servindo como vias de escoamento dos recursos naturais ilegalmente extraídos, como ouro e madeira. Elas também são utilizadas para outros fins irregulares, como o tráfico de drogas e armas, a captura e o comércio ilegal de animais silvestres, entre outros.

Uma área que sofre com o avanço das estradas ilegais é a do Xingu, no sul do Pará. Um levantamento feito em imagens de satélite pela Rede Xingu+ revelou a abertura de uma estrada clandestina de mais de 42 km entre a Estação Ecológica (ESEC) Terra do Meio e a Floresta Estadual do Iriri. Com isso, o chamado Corredor Socioambiental do Xingu, que reúne diversas áreas protegidas contíguas, está sendo dividido, o que torna a região ainda mais vulnerável às pressões socioeconômicas desmatadoras.

“A conectividade desempenha um papel importante na proteção hídrica e dos solos e reduz as áreas de transição entre ambientes de floresta e não floresta. Por exemplo, sabemos que na Amazônia existem cerca de três mil espécies de coronavírus (em morcegos), e o aumento de áreas de transição entre floresta e não floresta, causada por desmatamento e redução da conectividade, podem aumentar o risco de novas pandemias”, explicou Antonio Oviedo, pesquisador do Instituto Socioambiental (ISA). Fabiano Maisonnave também abordou essa notícia na Associated Press. (ClimaInfo)

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