O pesquisador analisou o material orgânico de 13 lagos da Amazônia — (Foto: Divulgação) |
"Os lagos da Amazônia armazenam muito mais carbono do que a média de lagos de outros biomas, como as florestas temperadas e boreais, e as regiões polares e subpolares", explica o geógrafo, que realizou o estudo com apoio da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).
As análises mostraram que esses lagos acumulam cerca de 113,5 gramas de carbono por metro quadrado ao ano — taxa entre 3 e 10 vezes maior do que regiões alagadas de outros biomas.
O volume gira em torno de 79 milhões de toneladas de carbono por ano — equivalente a 27% das emissões de carbono na atmosfera, aponta a pesquisa.
Descobriu que essas águas, mesmo em áreas de relativamente pequeno porte, são capazes de armazenar e absorver grandes quantidades de carbono, um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa que causa o aquecimento global. "Os lagos da Amazônia armazenam muito mais carbono do que a média de lagos de outros biomas, como as florestas temperadas e boreais, e as regiões polares e subpolares", explica o geógrafo, que realizou o estudo com apoio da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).
As análises mostraram que esses lagos acumulam cerca de 113,5 gramas de carbono por metro quadrado ao ano — taxa entre 3 e 10 vezes maior do que regiões alagadas de outros biomas.
O volume gira em torno de 79 milhões de toneladas de carbono por ano — equivalente a 27% das emissões de carbono na atmosfera, aponta a pesquisa.
Essas áreas alagadas na Amazônia, que compõem 3% de todos os lagos do planeta, estão próximas a grandes rios da região, como o Madeira, o Amazonas e o Negro.
São as águas deles que carregam a matéria que depois será "enterrada" no fundo dos lagos.
Ou seja, o gás carbônico é produzido pela decomposição do material orgânico da floresta: troncos de árvores, plantas mortas e outros tipos de sedimentos.
"Essa matéria produz muito carbono. Sem os lagos, esse gás iria para a atmosfera, aumentando o efeito estufa", explica Amora-Nogueira, que estuda o tema desde seu trabalho de conclusão de curso na graduação em Geografia.
"Os lagos são fundamentais nesse ciclo de entrada e saída de carbono, pois o material decomposto gera o carbono que, em vez de ir para a atmosfera, fica 'enterrado' no fundo da água", diz.
Tipos de água
Na Amazônia, há três tipos de águas que transportam e guardam matéria orgânica: clara, branca e preta. E a coloração de cada uma depende de sua capacidade de carregar esses sedimentos.
A água clara — dos rios Tapajós e Xingu, por exemplo — tem essa tonalidade porque recebe menos material da floresta. São rios que nascem na região central do Brasil.
Os rios de água branca — o Madeira, nascido nos Andes — têm força para levar grande volume de sedimentos, como enormes troncos de árvores que flutuam ao longo de seu curso.
Já os de água preta — o rio Negro, por exemplo — nascem dentro da própria Amazônia e, mais próximos da mata, recebem mais material orgânico das margens, ganhando uma coloração mais escura.
Segundo Amora-Nogueira, ainda são necessários mais estudos para entender como a diferença das águas impacta o armazenamento do gás carbônico na Amazônia.
Por outro lado, o estudo do geógrafo mensurou como o desmatamento afeta a qualidade do serviço de acumuladores de carbono prestado pelos lagos.
"Constatamos que os lagos de áreas desmatadas acumulam de 2 a 3 vezes menos carbono do que as regiões de floresta preservada", explica o pesquisador.
Ou seja, quanto mais degradada for a área do entorno do lago, menos ele vai atuar e mais gás carbônico vai atingir a atmosfera, piorando o cenário de aquecimento do planeta.
Por causa dessa ação, o pesquisador apelidou os lagos de "guerreiros contra o aquecimento global".
Para Humberto Marotta, professor de Geociências da UFF e orientador de Amora-Nogueira, o estudo aponta para a importância da conservação das áreas alagadas da Amazônia, muitas vezes deixadas de lado nas discussões sobre preservação da floresta.
"Os lagos amazônicos são grandes guardiões contra o aquecimento global. Então, precisamos pensar as áreas prioritária de conservação não apenas para as árvores em pé, mas também para áreas alagadas, que prestam um serviço importantíssimo para o planeta. É preciso pensar sistemas de preservação mais amplos", diz.
Desmatamento
O problema é que o desmatamento da Amazônia continua em ritmo acelerado.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre agosto de 2021 e julho deste ano, os alertas de desmatamento alcançaram 8.590 km² da floresta, uma pequena queda de 2% em relação ao mesmo período de 2021.
Foi o terceiro ano seguido que o órgão registrou alertas em uma área superior a 8 mil km² de floresta.
O Pará é o Estado com maior devastação, de acordo com o Inpe. Nele, foram 3.072 km² desmatados no período, seguido pelo Amazonas (2.292 km²), Mato Grosso (1.433 km²) e Rondônia (1.179 km²). (BBC Brasil)