Vista do Parque Nacional de Cevènnes, patrimônio mundial da Unesco, no sul da França, em 22 de novembro de 2017 — (Foto: AFP - PASCAL GUYOT) |
Muitos influenciadores da França estão colocando a natureza em risco a ponto de autoridades estarem negociando com as redes sociais a exclusão de postagens em parques e reservas florestais. O objetivo é não incitar comportamentos inadequados em locais já fragilizados devido aos incêndios, seca e calor intenso.
O fenômeno de atitudes descabidas para gravar vídeos e fazer fotos que possam viralizar nas redes sociais não é novo. No entanto, esse comportamento agora ameaça a natureza.
A direção do Parque Natural de Cèvennes, patrimônio mundial da Unesco, no sul da França, denuncia que influenciadores postam fotos em torno de fogueiras, por exemplo. Os três departamentos onde a reserva é localizada — Lozère, Gard e Ardèche — sofrem com a seca e focos de incêndio são frequentemente registrados no local.
Muitos influenciadores também exibem fotos de seus cães sem guia no parque, embora seja obrigatório que os donos de pets não os deixem soltos para que não ataquem animais selvagens que vivem no local. O uso de drones para fazer imagens em Cevènnes também é denunciado, já que o equipamento perturba os pássaros.
O parque natural de Mercantour, no sudeste da França, vem registrando o aumento de festas clandestinas em seus bosques. A direção do local também denuncia a prática de paddle em lagos que se formam nas montanhas, que têm um ecossistema muito frágil.
Desafio para as autoridades
A questão do aumento da frequentação após o fim do período de restrições relacionado à pandemia de Covid-19 desafia as direções das reservas e parques naturais. Ao mesmo tempo em que se comemora o interesse dos cidadãos e cidadãs pela natureza, teme-se os efeitos da superlotação.
A direção do parque de Cevènnes, vem entrando em contato com administradores das redes sociais na França — TikTok, Instagram, YouTube, Facebook, Twitter — para pedir que fotos e vídeos que incitam comportamentos irresponsáveis sejam apagados. Os influenciadores também vêm sendo abordados pelas autoridades francesas para que apaguem esses conteúdos por conta própria, mas a maioria deles é resistente.
Outros parques naturais, como as Calanques, no sul da França, estão limitando a quantidade de visitantes. Para frequentar o local, agora é necessário fazer uma reserva na internet. A quantidade de guardas, que fazem a inspeção dos visitantes e que protegem os espaços, também teve de aumentar.
O desrespeito das regras de reservas e parques naturais na França pode resultar em uma multa de até € 750 (cerca de R$ 4.000). Algumas regiões também estão impondo aos infratores uma formação — chamados de "estágios de cidadania" — para que as pessoas aprendam a respeitar a natureza.
Onda de incêndios, calor e seca
A França vem sendo palco de um verão de catástrofes naturais. Mais de 47 mil hectares de vegetação foram destruídos pelo fogo em 2022 — um recorde. Em um período de dois meses, três ondas de calor foram registradas. Além disso, o país enfrenta o período mais seco desde 1958.
ONGs e associações de proteção à natureza alertam que os ecossistemas estão extremamente sensibilizados por todos esses fenômenos. Por isso, os bombeiros franceses entregaram recentemente um relatório ao governo pedindo mais meios para gerenciar as catástrofes naturais.
Eles defendem, por exemplo, que as escolas proponham em seus programas projetos de instrução sobre os efeitos das mudanças climáticas. Segundo eles, é preciso incorporar a ideia de que alguns fenômenos se tornarão uma regra e é preciso melhorar os comportamentos a serem adotados em situações de risco.
Segundo a Organização Nacional das Florestas da França, nove a cada 10 incêndios no país são causados pela ação das pessoas, mas a maioria deles é acidental. Por outro lado, casos de incendiários não são raros.
Na semana passada, a polícia francesa prendeu um bombeiro voluntário que reconheceu ter iniciado vários focos na região de Hérault, no sul. Ele é apontado como o responsável pela destruição de mais de mil hectares e será julgado, correndo o risco de pegar 15 anos de prisão e de ter de pagar € 150 mil de multa. (RFI)