Entre as espécies ameaçadas que costumam ser alvo de caçadores estão a arara-azul, o tatu-bola, o mico-leão-dourado e o boto-cor-de-rosa. (© Edwin Giesbers_WWFclose) |
A cada dez brasileiros, nove não aprovam a ideia de autorizar a caça no país. A informação faz parte de um levantamento do Instituto Datafolha feito a pedido do WWF-Brasil. Para a pesquisa, foram entrevistadas em todas as cinco regiões do país 2.088 pessoas, a partir dos 16 anos, que responderam duas perguntas: "Você concorda com a ideia de autorizar a caça de animais no Brasil?" e "Votaria em quem apoia a caça no Brasil?".
Do total de
pessoas pesquisadas, 90% discordam da ideia de autorizar a caça, 9%
concordaram e 1% não soube responder. A rejeição é maior entre as
mulheres (92%) e residentes nas regiões metropolitanas, com 93%.
A
opinião feminina é também majoritária quando o tema é a
possibilidade de votar em candidatos que apoiam a caça, com
91% afirmando que não votariam em quem defende essa pauta, frente a
88% da população geral. A rejeição é mais forte entre as
mulheres e moradores das regiões metropolitanas, ambos com 91%.
Apenas 10% dos entrevistados votariam em candidatos que apoiam a
autorização da caça no país e 3% não soube responder.
Os
dados demonstram uma sensibilização forte, contrária à
autorização da caça em dois grupos específicos: mulheres e
residentes nas regiões metropolitanas. Uma possível razão para
isso é o aumento da violência em decorrência de mais armas em
circulação nesses centros.
“Todos sofremos com a
grande circulação de armas. Mães perdem seus filhos em brigas de
trânsito, vizinhos se matam entre si por bobagens, apenas porque um
teve acesso facilitado a uma arma de fogo”, afirma Raul do Valle,
coordenador de Incidência política do WWF-Brasil. "Estamos
vendo, chocados, um aumento nos casos em que pais de família matam
esposa, filhos, parentes e depois se matam. O aumento na circulação
de armas em nossa sociedade é uma tragédia e só tende a piorar se
as coisas não mudarem".
Apesar de a caça ser
liberada apenas para espécies como o javali, que é considerado um
invasor, a quantidade de CACs (colecionadores, atiradores e
caçadores) aumentou exponencialmente no Brasil nos últimos anos.
Desde 2018, o número de armas para essa categoria pulou de 350,6 mil
para 1.006.725 neste ano. Os dados são do Exército e foram obtidos
pela Lei de Acesso à Informação, por meio dos Institutos Igarapé
e Sou da Paz.
A região amazônica, notadamente conhecida
pelos conflitos fundiários, foi uma das que registrou maior aumento
na quantidade de armas em circulação, com 700% desde 2018.
A
liberação da caça esportiva no país faria aumentar ainda mais as
hipóteses para aquisição de armas com amparo legal, dado que
atualmente são poucas as hipóteses de caça legal (subsistência e
controle de pragas). Isso aumentará também as chances de que armas
compradas legalmente venham a cair nas mãos do crime organizado,
aumentando a periculosidade desses grupos, algo que já vem sendo
noticiado. “Recentemente, apreenderam armas compradas por um CAC
nas mãos de uma quadrilha de roubo a carros fortes. Estamos falando
de um problema grave de segurança, não apenas ambiental: mais armas
em circulação significa mais violência comum e do próprio crime
organizado, que já é imensa” avalia Raul do Valle.
Impacto para os animais
Outro aspecto sério envolve crueldade com animais em extinção e
o uso de cães para a caça. “Muitos caçadores deixam os
cães vários dias sem alimentação suficiente e os estimulam a ser
mais agressivos. Por isso, caçam a presa impiedosamente",
explica Gabriela Moreira, coordenadora do Projeto Pró-Espécies no
WWF-Brasil. "Sem falar que caçadores inexperientes podem
colocar em risco nossa fauna, atingindo animais que estão sob o
risco de extinção ou fêmeas com seus filhotes. Quem vai se
responsabilizar por esse risco", pergunta.
A opinião
dos brasileiros vai contra a atuação do Congresso, onde existem
projetos de lei como o PL 5544/2020, que dispõe sobre a autorização
para a caça esportiva de animais no território nacional. O projeto
aguarda a criação de uma comissão especial designada pela Mesa
Diretora do Congresso Nacional. A pressão da sociedade segue intensa
para coibir sua aprovação.
Entre as espécies ameaçadas
que costumam ser alvo de caçadores estão a arara-azul, o tatu-bola,
o mico-leão-dourado e o boto-cor-de-rosa.
Sobre a pesquisa
A pesquisa ouviu 2088 brasileiros com 16 anos ou mais de todos os estratos socioeconômicos de 5 a 8 de julho de 2022, margem de erro máxima de 2 pontos percentuais, uma amostragem que espelha a demografia do país segundo os mais recentes dados disponíveis do IBGE.