Desmatamento e agressões ambientais são crescentes no Brasil (Foto: Bruno Kelly) |
Pesquisa aponta que candidatos da Amazônia Legal não recusam recursos financeiros para as suas campanhas eleitorais de pessoas físicas ou empresas que respondam a processos por crimes ambientais. De acordo com o levantamento da Plataforma Cipó, dentro da Amazônia Legal, os políticos de Mato Grosso e Rondônia estão entre os que mais receberam doações de infratores ambientais.
Em 2018, 62 políticos de Mato Grosso e 58 de Rondônia receberam recursos para as suas campanhas de entes, físico ou jurídico, ligados à destruição do meio ambiente. Em terceiro lugar no ranking da região vem o Tocantins, com 25 políticos. Já quando se leva em consideração dados de todo o país, os candidatos paulistas são os terceiros mais financiados por infratores ambientais, sendo 45% respectivamente.
Na conta ainda está a eleição de um senador e do próprio governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil). As doações feitas por infratores ambientais à campanha de Mendes somam mais de R$ 1 milhão. O estudo mostra que entre os candidatos a governador eleitos em 2018 na Amazônia Legal também estão Gladson Cameli (PP), no Acre, coronel Marcos Rocha (então PSL), em Rondônia, e Antônio Denarium (ex-PSL), em Roraima.
Estes financiadores, por sua vez, também não fazem acepções partidárias para quem doar – podendo ser políticos que estejam desde em legendas de esquerda, como o PT, do centrão liderado pelo PP, ou da direita simbolizada pelo PL.
A pesquisa da Plataforma Cipó, um “instituto de pesquisa independente liderado por mulheres e dedicado a questões de clima, governança e paz na América Latina e no Caribe e no resto do Sul Global”, como se apresenta em sua página na internet, teve como base as declarações de dados de candidatos e partidos nas eleições gerais de 2018, mas que também tendem a refletir a relação entre infratores ambientais e o processo eleitoral de 2022.
Legislativo do ilícito ambiental
Conforme a análise, os candidatos a deputados estaduais foram os que mais receberam doações dos infratores. Dos 62 políticos mato-grossenses financiados, 12 saíram vitoriosos na disputa para a Assembleia Legislativa; o número representa a metade das cadeiras do Parlamento estadual. Dos oito deputados federais eleitos por Mato Grosso, cinco receberam recursos de infratores ambientais.
O maior volume recebido foi para 12 deputados estaduais eleitos em Mato Grosso, com cerca de R$ 1,4 milhão.
As pesquisadoras chegaram a estes resultados a partir das informações de autuações ambientais e áreas embargadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, o Ibama, e as prestações de contas dos candidatos nas eleições de 2018. Foram consideradas tanto as sanções de multas e embargos a pessoas físicas quanto jurídicas.
O mapa elaborado pela Cipó a partir das coordenadas das áreas embargadas pelo Ibama mostra que as maiores concentrações de autuações estão em Mato Grosso, Rondônia e Acre, justamente os estados os candidatos a governador que receberam doações dos infratores foram eleitos em 2018. Nas eleições de 2022, eles buscam a reeleição e são favoritos nas disputas.
No caso particular do Acre, desde a eleição de Gladson Cameli com seu discurso de desburocratizar as regras ambientais para priorizar o agronegócio, o estado registra aumentos expressivos em suas taxas de desmatamento e queimadas. Em 2021, por exemplo, de acordo com o Inpe, a área desmatada de 889 km2, foi a maior já detectada nos últimos 18 anos.
Em resposta ao ((o))eco, a assessoria do governador Gladson Camelli respondeu que entrou em contato com os setores Jurídico e Contábil da campanha do candidato ao governo do Acre, Gladson Cameli, e todos os balanços a respeito do processo eleitoral estarão disponíveis na prestação de contas final, sendo que tais informações estão devidamente entregues ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Os governadores de Mato Grosso e Rondônia não responderam até o fechamento. O espaço segue aberto. (O ECO)