América Latina lidera redução da fauna nos últimos 50 anos

Relatório de 50 anos do WWF aponta para uma 'crise global' na vida selvagem, com uma redução de quase 70% das populações de mais de 5 mil espécies
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FRANCISCO COSTA
18 outubro 2022
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Boto-cor-de-rosa no Rio Negro, na Amazônia. Espécie foi uma das que mais diminuíram nas últimas décadas. — Foto: MarkCarwardine/WWF


O planeta perdeu 69% das populações de seus animais selvagens em menos de 50 anos devido principalmente à ação humana (como o desmatamento, a poluição dos oceanos e a crise climática), segundo o mais recente relatório da ONG Fundo Mundial para a Natureza (WWF), divulgado nesta semana.

E mais uma vez, a situação é ainda mais crítica na região da América Latina e Caribe, onde as populações monitoradas encolheram, em média, em 94%.

Por outro lado, na América do Norte, Europa e Ásia Central, o índice de perda de biodiversidade ficou perto dos 20%. Já na África a taxa foi de 66% e na região da Oceania e do Pacífico Asiático o índice foi de 55%.

No Brasil, o destaque negativo do relatório fica para as onças-pintadas, corais, botos amazônicos e tatus-bola. As espécies foram algumas das que mais diminuíram no país nas últimas décadas.

O levantamento analisou cerca de 32 mil populações de vida selvagem em todo o mundo e mais de 5 mil espécies.

Somente os botos cor-de-rosa tiveram uma queda de 65% entre 1994 e 2016 na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no estado do Amazonas. Segundo o relatório, estes animais estão sofrendo com a captura não intencional em redes e pela contaminação por mercúrio.

"Os botos têm grande capacidade de se aproximar e interagir com humanos, o que acaba gerando situações de conflito com a atividade pesqueira que, frequentemente, terminam com a morte de indivíduos da espécie", diz Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.

No Pantanal, outra espécie sob ameaça é a onça-pintada que, ainda de acordo com o relatório, está sofrendo com o crescente barramento dos rios da Bacia do Alto Paraguai e as queimadas recorrentes na região.

Como mostrou o g1, em 2020, incêndios destruíram cerca de 4 milhões de hectares, ou 26% do bioma - uma área maior que a Bélgica.

Além da onça, outras espécies brasileiras em risco mapeadas pelo WWF são o tatu-bola e a tiriba-do-Paranã, no Cerrado; populações de lagartos, na Caatinga; o gato-palheiro, no Pampa; e os corais, no litoral do país.

No caso dos corais, estima-se que um aumento de 1,5°C na temperatura global cause o desaparecimento de 70% a 90% dessas espécies em todo o mundo.

“Estamos enfrentando uma dupla emergência global provocada pelas ações humanas: a das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade, ameaçando o bem-estar das gerações atuais e futuras”, acrescentou Marco Lambertini, diretor geral do WWF Internacional.

Para reverter esse cenário, a ONG argumenta que é necessário, além de esforços de conservação e restauração, uma aceleração da transição econômica para que os recursos naturais sejam devidamente valorizados.

O WWF também enfatiza a necessidade de produzir e consumir alimentos de forma sustentável, bem como descarbonizar todos os setores de forma rápida e profunda.

"O Relatório Planeta Vivo contém números chocantes diretamente relacionados às crises climáticas e de biodiversidade e, em resposta, devemos ver sistemas transformadores mudarem se quisermos deter e reverter a perda das espécies e garantir um futuro próspero para as pessoas e a natureza”, acrescentou Lambertini. (G1)

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