Emissões de gases de efeito estufa no Brasil em 2021 tem a maior alta desde 2003

O crescimento no ano passado atingiu 12,2% e foi puxado por desmatamento, energia e agropecuária.
Compartilhe no WhatsApp
FRANCISCO COSTA
2 novembro 2022
0

Fogo consome terras recentemente desmatadas e queimadas por pecuaristas perto de Novo Progresso, no Pará, em 23 de agosto de 2020. Incêndio e desmatamento na Amazônia, na região Norte do Brasil. — Foto: Andre Penner/AP

O Brasil emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de gás carbônico (CO2) equivalente, um aumento de 12,2% em relação a 2020. Isso representa a maior alta em quase duas décadas. É o que aponta a mais recente edição do "Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima", o SEEG, divulgado nesta terça-feira (1º).

Segundo o relatório, a maior alta só foi verificada em 2003, ano em que o país atingiu o recorde histórico de emissões.

"Naquele ano, a alta foi de 20%, puxada pela explosão do desmatamento na Amazônia".

"Está muito claro que nós temos um governo que se revelou uma verdadeira bomba climática, máquina de gerar aquecimento global e jogar carbono para a atmosfera no planeta. Temos um governo que negou a agenda de clima e fez tudo o que podia para destruir a governança ambiental do país, especialmente na Amazônia", disse Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, durante a apresentação dos dados.

Veja alguns pontos do relatório:

  • O crescimento em 2021 ocorreu em quase todos os setores da economia e foi puxado por desmatamento, energia e agropecuária.

  • O setor de energia emitiu 435 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente em 2021 contra 387 milhões em 2020. A maior alta em 50 anos.

  • A agropecuária teve as maiores emissões da série histórica: 601 milhões de toneladas, contra 579 milhões em 2020.

  • O setor de resíduos foi o único que não teve aumento - 91,1 milhões de toneladas contra 91,2 milhões em 2020.

  • O setor de mudança de uso da terra, representado em sua maior parte pelo desmatamento da Amazônia e no Cerrado, foi o grande vilão das emissões. "O aumento das emissões brutas do setor, de 18,5%, só é superado na série histórica pelo ano de 2003", diz o documento.

Para Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, o balanço de dez anos do Sistema, mostra que o Brasil teve uma década perdida para controlar sua poluição climática.

“Desde a regulamentação da Política Nacional sobre Mudança do Clima, em 2010, nós estamos patinando. Não apenas não conseguimos reduzir nossas emissões de maneira consistente, como as aumentamos nos últimos anos, e de forma expressiva”, destaca.

O coordenador do SEEG explica que o gráfico acima aponta três padrões. "Entre 1900 e 2003 tivemos um período de aumento das emissões. A partir de 2004 até 2010 temos uma forte redução das emissões no Brasil, puxada pela redução do desmatamento. Desde então, a gente vem num processo de sobe e desce, com tendência de subida até chegar a 2021".

Setor de mudança de uso da terra: o grande vilão

O setor de mudança de uso da terra, representado em sua maior parte pelo desmatamento da Amazônia e no Cerrado, foi a principal fonte de emissão de gases do Brasil em 2021. Segundo o relatório do SEEG, o desmatamento na Amazônia respondeu por 77% das emissões por mudanças de uso da terra em 2021.

O Brasil vem batendo recordes de desmatamento nos últimos anos. “A taxa de desmatamento em 2021 na Amazônia Legal foi de 13.038 km², a maior desde 2006, quando o desmatamento estava em franco decréscimo desde os 27.772 km² vistos em 2004. Isso demonstra que o aumento das emissões atualmente está refletindo esse retrocesso nos padrões de desmatamento”, comenta Bárbara Zimbres, pesquisadora do Ipam.

No Cerrado, as emissões foram de 117 milhões de toneladas, com aumento de 4%. Também houve aumento de 65% no carbono emitido pelo desmatamento da Mata Atlântica.

Agropecuária

"Se fosse um país, o agro brasileiro seria o 16º maior emissor do planeta, à frente da África do Sul", comparam os pesquisadores. A agropecuária teve as maiores emissões da série histórica: 601 milhões de toneladas. A pecuária é a principal fonte desse aumento. Na agricultura, pesaram a alta no consumo de fertilizantes nitrogenados e o volume de calcário nas lavouras.

“O mais preocupante é que, mesmo com os compromissos assumidos pelo país em sua NDC (a meta no Acordo de Paris), no Compromisso Global do Metano e no Plano ABC, que tem mais de dez anos, em 2021, tivemos o recorde de emissões para a pecuária e a agricultura do Brasil”, salienta Renata Potenza, coordenadora de Clima e Cadeias Agropecuárias do Imaflora.

“Considerando as metas de redução de emissões assumidas na NDC do país para 2025 e 2030, o patamar atual torna o alcance dessas metas cada vez mais distante", completa Potenza. (G1)

Siga no Google News

Postar um comentário

0Comentários

Postar um comentário (0)

#buttons=(Ok, estou ciente!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar a experiência de navegaçãoSaiba Mais
Ok, Go it!