Maior jornal na internet em Rondônia é alvo de 20 tiros após criticar movimentos de extrema-direita

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FRANCISCO COSTA
12 novembro 2022
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Fachada do jornal com marcas de tiros (Foto de Paulo Andreoli)

A fachada do prédio onde fica a redação do jornal eletrônico Rondôniaovivo que completará 18 anos de história em janeiro de 2023
, foi alvo de um atentado a tiros na manhã deste sábado (12-11-22), por volta das 3h50. É o maior jornal digital do Estado em audiência, um dos mais destemidos e com resistente atuação social. 

Foram disparados ao menos 10 tiros com uma pistola 9 milímetros contra a fachada do veículo de comunicação, que destruíram vidros de janelas e portas. A ação do pistoleiro foi toda registrada por câmeras de segurança da rua, onde fica a sede do jornal.

Nas imagens feitas por câmeras de monitoramento, mostram um homem de boné preto, jaqueta e calça escura chegando à pé na frente do jornal. Ele atravessa a rua e atira várias vezes contra a fachada e a porta da empresa de comunicação. 

Após o atentado a tiros, o suspeito foge em direção à Rua Buenos Aires, que fica na esquina, de onde provavelmente recebeu apoio de algum veículo para sair do local. Uma camionete branca foi identificada. 

A Polícia Militar de Rondônia, que atendeu o chamado, recolheu da cena do crime 20 cápsulas de pistola calibre 9 mm. O material foi levado para uma delegacia da Polícia Civil para ajudar no registro da ocorrência. Como o ataque aconteceu de madrugada, não houve feridos, apenas danos materiais. 

O diretor e fundador do Rondoniaovivo, Paulo Andreoli, disse que nos últimos dias estava recebendo diversas ameaças de grupos golpistas e manifestantes antidemocráticos por matérias jornalísticas publicadas sobre o movimento. 

Os grupos golpistas, não aceitam a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições do último dia 30 de outubro e estão concentrados desde o dia 2 de novembro em um campo de futebol em frente ao antigo quartel da 17ª Brigada de Infantaria de Selva (17ª BIS), pertencente ao Exército brasileiro.

Andreoli também revelou à equipe de reportagem que o nome do portal de notícias integra uma lista de empresas que circula em grupos de WhatsApp da extrema-direita. Essas empresas supostamente apoiaram a candidatura do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e golpistas pedem boicote a essas empresas.

"As ameaças estavam chegando de forma direta, e fomos avisados por alguns amigos que estão nesses grupos de organização dos protestos de extrema-direita. A gente sabia que ia acontecer algo contra a gente, mas não dessa forma", declarou Andreoli.

ASSÉDIO JUDICIAL - A perícia técnica da Polícia Civil esteve no local para verificar os detalhes do atentado contra o jornal. As investigações devem apurar quem são os autores e quais as reais motivações.

De acordo com Paulo Andreoli, o Rondoniaovivo também é alvo de um suposto assédio judicial na área cível, com pedido de indenizações por danos morais. O jornal sofreu ao menos 20 processos, com decisões contrárias ao veículo, e teve suas contas bancárias bloqueadas por ordens de magistrados.

Os casos envolvem reclamações de calúnia e difamação. Os autores das ações judiciais, reclamam de reportagens do jornal, onde não tiveram seus nomes ou dados pessoais publicados, mas mesmo assim, decidiram mover ações judiciais contra o Rondoniaovivo.

O diretor comercial que mora nos fundos do jornal, foi quem acionou a patrulha da Polícia Militar. Ele relatou para os policiais que durante a madrugada ouviu barulho foi até o portal do jornal, mas não olhou a fachada do prédio e que só no amanhecer do dia viu os estilhaços de vidros e capsulas de balas disparados no chão. Ninguém ficou ferido.

Em um comunicado o jornal diz que "vem noticiando com frequência o ato antidemocrático de um grupo golpista de extrema-direita que não aceita a derrota nas urnas ocorrida no 1° e 2° turno das eleições de Jair Bolsonaro (PL) e com isso muitas ameaças foram recebidas". 

"Além disso, o nome Rondoniaovivo, saiu em uma lista, juntamente com outros estabelecimentos comerciais, como sendo uma empresa que deveria ser boicotada por ser considerada esquerdista. É a extrema-direita com seus métodos nazifascistas, atuando em Rondônia. A história sempre se repete, só mudam os atores e os locais!", diz o comunicado.

O jornal também fez inúmeras críticas durante o primeiro e segundo turno das eleições de 2022, contra o senador Marcos Rogério (PL), candidato ao governo que foi derrotado nas urnas. 

Paulo Andreoli, recordou notícias anteriores, onde o senador foi acusado de ter um assessor parlamentar envolvido com tráfico de drogas. Também questionou o patrimônio e as relações do político com gestores públicos e parlamentares envolvidos com crimes de corrupção. Rogério sempre refutou as acusações.

Em dezembro de 2020, o filho de Paulo Andreoli, Alberto de Carvalho Andreoli, de 31 anos, foi assassinado com cerca de 10 facadas na Rua Venezuela com Abunã, em Porto Velho. Mas não se sabe se a morte tem alguma relação com o trabalho de jornalismo de Paulo Andreoli. O criminoso foi a júri popular e teve condenação judicial.

"Vamos reforçar a segurança, garantir nossa proteção e continuar. Vou fazer ocorrência policial. A gente já recebi ameaças e já tivemos outros atentado, mas não como esse", disse Andreoli.

Organizações internacionais de defesa dos direitos humanos e proteção de jornalistas e comunicadores foram informados sobre o crime contra o jornal.

Na última sexta-feira (04), o repórter André Felipe e o cinegrafista Ruan Gabriel, da Rede Amazônica Rondônia, afiliada Globo, foram atacados por manifestantes que não aceitam o resultado das Eleições e pedem intervenção federal. Uma equipe de reportagem do SBT também foi hostilizada, cercada e expulsa, por apoiadores de Bolsonaro,  do local onde fazia cobertura de bloqueios em rodovias.

ESTADO BOLSONARISTA - Em Rondônia, no primeiro turno do pleito eleitoral deste ano,  Bolsonaro (PL) teve 64,36% dos votos válidos (581.306) enquanto Lula (PT) fez 261.749 votos, um percentual de 28,98%. Bolsonaro ganhou em todos os 52 municípios do Estado no primeiro turno.

No segundo turno, a votação do candidato do PL aumentou. Ele obteve 633.236 votos em RO, o que corresponde a 70,66% dos votos válidos. Já o petista obteve 262.904 votos, o que representa 29,34% dos votos válidos. A diferença entre Bolsonaro e Lula em RO foi de 370.332 votos, ou 41,32%.

Historicamente, o PT só teve sucesso uma vez nas urnas em Rondônia nas eleições presidenciais. Em 2002, Lula venceu com 283.279 votos ante os 128.000 do então adversário José Serra (PSDB). No segundo mandato, Lula teve uma derrota apertada para Geraldo Alckmin, que teve 344.096 (47,04%) votos e o petista, 329.598 (45,06%). 

Em 2014, o candidato Aécio Neves (PSDB) superou a presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) com 442.349 votos (54,86%) ante os 364.055 (45,15%). 

Dos 52 municípios do Estado, 39 preferiram Aécio e 13 escolheram Dilma. Essa evolução dos dados evidenciam uma aproximação do eleitorado com políticos de centro-direita.

COMUNICADO DO JORNAL - "Um ataque a tiros ao Rondoniaovivo, ocorreu na madrugada deste sábado (12). A tentativa é a mesma de sempre em relação aos veículos de comunicação: calar quem toma posição contra os absurdos da sociedade. Essa não é a primeira vez que o jornal, com 18 anos de história, passa por esse tipo de situação. Temos certeza também que essa não será a última.

Quem fez esse atentado? Essa é uma pergunta ainda em aberto que as autoridades de segurança do Estado de Rondônia tem o dever de responder com urgência. 

O Rondoniaovivo nos últimos dias tem se posicionado contra um grupo da sociedade rondoniense que defende um golpe de Estado no Brasil, por não aceitar o resultado da última eleição presidencial. Eles são os mesmos que defendem a liberdade, mas impedem o direito de ir e vir dos cidadãos e, acreditam que uma ditadura é a solução para todos os males que afligem o nosso país. Uma contradição.

O que ocorreu neste sábado, não foi uma surpresa. Camionetes rondando a sede do site, telefonemas de números privados e alertas de pessoas que conhecem quem está por trás desses protestos, nos deu a noção de que algo estaria para acontecer.

Além disso, o nome Rondoniaovivo, saiu em uma lista, juntamente com outros estabelecimentos comerciais, como sendo uma empresa que deveria ser boicotada por ser considerada esquerdista. É a extrema-direita com seus métodos nazifascistas, atuando em Rondônia. A história sempre se repete, só mudam os atores e os locais!

Esses tiros que atingiram a fachada do Rondoniaovivo, acertaram mais que uma simples parede de concreto, mas, o pior de tudo, acertaram a democracia. Quando um veículo de comunicação sofre esse tipo ataque, não estão tentando calar apenas esse veiculador de notícias, mas também o direito da sociedade de se informar e se manifestar.

Muitos acham que esse atentado foi o correto a ser feito devido às posições do jornal, porém, esquecem, que hoje tentam calar um diário de notícias, amanhã, os autores do atentado vão tentar calar quem disser que não concorda com o que fazem. As máfias fazem assim, calam os que são contrários. Rondônia e o Brasil não merece isso!

O Rondoniaovivo não vai se amedrontar e continuará na missão de bem informar os rondonienses e o mundo sobre o que acontece em nosso Estado. Agradecemos as manifestações de solidariedade de internautas e das instituições que demonstraram repúdio contra a esse vil atentado."

MANIFESTAÇÕES DE APOIO - O Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Rondônia disse que "felizmente nenhum dos profissionais foi ferido fisicamente, mas é lamentável o estresse e a pressão psicológica que ocasiona. A comunicação livre é um dos pilares para uma democracia sólida em nosso país e é necessário o respeito às opiniões diversas. Reafirmamos nosso compromisso com a verdade e pedimos a apuração imediata para solução do caso".

A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Rondônia (Sinjor-RO), repudiou o atentado. "A fachada, portas e janelas foram atingidas por vários disparos de arma de fogo. Imagens de câmeras de videomonitoramento mostram um homem atirando contra o jornal. Apesar da gravidade do ato, não há informações de feridos. O Sinjor-RO, em nome de sua diretoria, se solidariza com jornalistas e a direção do atuante rondoniaovivo.com e, ao mesmo tempo, cobra das autoridades do Estado respostas para ataques à imprensa que vêm ocorrendo nas últimas semanas.

A direção do Sinjor-RO informa que tentará, na segunda-feira (14), uma reunião com autoridades ligadas à Segurança Pública, bem como do Ministério Público (MP) para oficializar um pedido de rigor e celeridade nas investigações. Medidas devem ser tomadas antes que uma tragédia aconteça. A direção do Sinjor-RO confia na Segurança Pública, bem como na Justiça. Medidas precisam ser tomadas contra atos insanos contra jornalistas, como este que ocorreu nesta madrugada de sábado. Rondônia não pode voltar aos anos de chumbo onde tudo era “resolvido” na bala. Os tiros dados contra o rondoniaovivo.com foram, também, contra à liberdade de expressão e ao exercício do bom jornalismo.

Não podemos viver sob o controle dos “soldados da insanidade” que, em nome de uma suposta liberdade, intimida, agride e aterroriza jornalistas", diz o sindicato.

O Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Rondônia declarou que "repudia os ataques à ordem democrática brasileira e aguarda que as autoridades competentes tomem as providências necessárias para resguardar sempre a Constituição e a ordem jurídica e social estabelecida".

O Partido do Trabalhadores de Rondônia declarou que "este ato repugnante atenta contra a democracia e precisa urgentemente ser investigado pelas autoridades competentes e os responsáveis punidos exemplarmente. Nossa total solidariedade aos funcionários e diretores do sítio de notícias que felizmente não foram vitimados fisicamente, mas que sofrem abalos emocionais",


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