Desmatamento na Flona Bom Futuro, em Rondônia, em setembro de 2022 (© Israel Vale/ WWF-Brasil) |
A taxa anual de desmatamento da Amazônia estimada em 2022 foi de 11.568 km², de acordo com os dados oficiais do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A taxa de desmatamento se refere ao período entre agosto de 2021 e julho de 2022.
Os estados que lideraram a destruição no período foram o Pará, Amazonas e Mato Grosso, com 4.141 km², 2.607 km² e 1.906 km² de florestas desmatadas, respectivamente. O maior aumento de desmatamento estimado foi no estado do Amazonas com 13,1% a mais em relação a 2021.
]O desmatamento na Amazônia se manteve nos mais altos patamares desde 2009, apesar de queda em relação ao registrado em 2021 (13.038 km²), consolidando a tendência de aumento descontrolado da devastação observada nos últimos quatro anos, durante o governo Bolsonaro. 2009 foi o ano em que a meta de redução do desmatamento para 2020 foi definida em 3.925 km² para o ano 2020, no Plano Nacional sobre Mudança do Clima do Brasil. A taxa estimada esse ano é quase 3 vezes maior.
A área devastada em 2022 na Amazônia é 48,2% mais alta que a média observada nos últimos 10 anos no bioma. Nos quatro anos de governo Bolsonaro, 45.586 km² de florestas foram destruídas - uma área maior que a Holanda ou perto de 8 vezes a extensão do Distrito Federal.
A explosão do desmatamento durante a última gestão Federal é resultado do abandono do sistema de proteção ambiental, de acordo com Raul do Valle, especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil. "Nos últimos anos, o desmatamento associado a atividades ilegais aumentou exponencialmente por conta da redução de fiscalização e o desmonte dos órgãos ambientais. Os números consolidados pelo sistema PRODES sobre o desmatamento da Amazônia confirmam que é urgente a retomada dos mecanismos de comando e controle”, afirmou Valle.
“O novo governo precisa emitir um sinal claro de que nenhum desmatamento será tolerado e reconstruir todo o arcabouço de proteção que foi destruído. Esse caminho é vital para que o Brasil garanta sua segurança climática e retome seu papel de liderança nas questões ambientais, no cenário internacional", acrescentou Valle.
Sem essa recuperação da capacidade de fiscalização e de ação dos órgãos ambientais, a Amazônia se aproxima perigosamente de um ponto de não retorno, a partir do qual ela perderá a capacidade de prover os serviços ecossistêmicos dos quais todos nós dependemos, segundo Mariana Napolitano, Gerente de Ciências do WWF-Brasil.
"Os dados consolidados de desmatamento da Amazônia do sistema PRODES comprovam o cenário dramático que o sistema DETER já apontava: o patamar dos 10 mil km2 por ano foi superado novamente, colocando a Amazônia cada vez mais perto do seu ponto de não retorno”, afirmou Napolitano.
De acordo com ela, perder a Amazônia afetaria os meios de subsistência de 47 milhões de pessoas e intensificaria a emergência climática global. “Além disso, colocaria em risco a segurança alimentar em toda a América do Sul e afetaria a agricultura em outros continentes. É essencial e viável reduzir significativamente as taxas de desmatamento até sua eliminação completa em 2030. Trata-se de um imperativo humanitário diante da dupla crise do clima e da perda em massa da biodiversidade global que a humanidade está enfrentando", disse ela.