Indígenas continuam sendo assassinados no Brasil: dois jovens Pataxó foram mortos

Compartilhe no WhatsApp
FRANCISCO COSTA
18 janeiro 2023
0

Nawir Brito de Jesus, 17 anos, e Samuel Cristiano do Amor Divino, de 25 do povo Pataxó

Sônia Guajajara, ministra dos Povos Tradicionais do Brasil pediu que o Ministério da Justiça e a Força Nacional para investigar a morte de indígenas e garantir a proteção do território do povo Pataxó no Sul da Bahia. O gabinete de crise esperar ajudar elucidar as mortes.

Dois indígenas foram mortos a tiros na noite de terça-feira (17), na BR-101, em trecho da cidade de Itabela, no extremo sul da Bahia. Segundo informações da Polícia Civil, as vítimas foram identificadas como Nawir Brito de Jesus, 17 anos, e Samuel Cristiano do Amor Divino, de 25.

De acordo com a polícia, a dupla foi atingida pelos tiros, por volta das 17h, no km 787, quando se deslocava do Povoado de Montinho para uma das fazendas ocupadas por um grupo indígena no processo de retomada feito pelos povos Pataxós da região extremo sul.Desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 1° de janeiro, o grupo já ocupou cerca de três fazendas da região.

Testemunhas informaram que os disparos foram feitos por homens em uma motocicleta e as vítimas foram atingidas nas costas.

O caso é investigado pela Delegacia Territorial (DT) de Itabela. Ainda não há informações sobre a autoria e motivação do crime.

A Polícia Civil informou que mais detalhes sobre o crime não podem ser divulgados no momento, para não interferir na investigação.

Após o assassinato, os indígenas fizeram uma manifestação na BR-101, que ficou interditada por cerca de três horas, entre 19h e 22h.

Depois do protesto, o Movimento Indígena da Bahia e a Federação Indígena das Nações Pataxós e Tupinambás do Extremo Sul da Bahia (FINPAT) fizeram pedidos de reforço de segurança aos povos da região, que estão em conflitos com fazendeiros, aos ministérios da Justiça e dos Povos Indígenas, além da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). 

Em nota, o Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba) lamentou o aumento da violência no território contra o povo Pataxó e destacou a urgência em demarcar os territórios indígenas na Bahia. “Samuel e Ianuí são mais duas vítimas dos interesses dos latifundiários, vítimas do agronegócio, vítimas da não demarcação de um território já reconhecido como tradicional e indígena”, afirma a nota do Mupoiba.

Nos últimos dias de 2022, em 27 de dezembro, uma outra aldeia da mesma TI, a Quero Ver, no município de Prado, havia sido invadida por homens armados. Na região, o clima é de medo e luto, mas desistir não é uma opção para a comunidade.

De acordo com Valzinho Pataxó, cacique da aldeia Quero Ver, na noite do dia 27 de dezembro, homens armados e encapuzados invadiram a aldeia e se identificaram como policiais, mas não apresentaram documentação. Valzinho relata ameaças de expulsão e atos de violência física e psicológica por parte de pistoleiros e a mando de empresários locais.

“Estávamos andando dentro da aldeia, eu, três homens, algumas mulheres e crianças quando vimos uma Hilux branca e um outro carro de onde saiu um homem, passou por baixo da cerca e começou a atirar em nossa direção. Minha filha de 12 anos correu tanto que foi parar em um rio. Quando a encontramos, estava toda molhada, cheia de espinhos, tremendo e muito apavorada”, relembra Valzinho que tenta amparar a filha, mas também teme sobre o que ainda pode acontecer a ele e à comunidade.

A Terra Indígena de Barra Velha está situada no distrito de Corumbau, município de Prado, região de turismo e de muita especulação imobiliária. Valzinho Pataxó nos conta que está com a vida sob ameaça e que não sai mais da aldeia por medo de ter o mesmo fim de outros companheiros.

Ele explica que o conflito de agora tem as suas origens no passado e que essas ameaças acontecem desde 1970. A resistência Pataxó nesta localidade é para defender o seu território sagrado das agressões das forças econômicas que buscam de todas as formas invadir a Terra Indígena, já reconhecida pelo estado brasileiro.

“Nos anos 70 os nossos povos foram expulsos da aldeia Quero Ver por pistoleiros pagos por fazendeiros. Agora, nós viemos pegar nossa aldeia de volta”, declara Valzinho que diz só querer justiça e segurança para os povos pataxós, para as crianças e idosos indígenas. “Ter o direito de ir e vir sem medo de sermos mortos e de termos o mesmo fim de Gustavo Conceição, adolescente de 14 anos que foi assassinado”, declara. Gustavo foi assassinado em 12 de setembro de 2022, na TI Comexatibá, também em Prado.

Esperança

Apesar de um presente e passado marcados por violência tão extrema, o povo Pataxó tem mantido a esperança em dias melhores e na definitiva resolução desses conflitos. Uma das razões para alimentar a fé em novos tempos vem com o dia 11 de janeiro de 2023, dia que entra para a história com a posse da primeira ministra indígena do Brasil, Sônia Guajajara que passou a comandar o recém-criado Ministério dos Povos Indígenas do Governo Lula.

É a primeira vez na história do país que o Brasil tem um ministério exclusivo para representar e tratar de questões relacionadas aos interesses indígenas. Na Bahia, o governador Jerônimo Rodrigues, primeiro governador indígena do estado, também empossou a liderança Patrícia Pataxó na Superintendência de Políticas para Povos Indígenas na Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado da Bahia (Sepromi).

A espera por espaço de diálogo e políticas públicas que assegurem os direitos dos povos tradicionais aquece o coração de quem aposta em reparação e reconhecimento.  "Nós, indígenas do Brasil, estamos todos confiantes na potência dessas guerreiras. Temos uma ministra, Sônia Guajajara, temos uma presidente da FUNAI, a Joênia Wapichana, e temos também Patrícia Pataxó, na superintendência do estado. Se a gente já é forte, agora, nós somos muito mais", declara o Cacique Valzinho Pataxó. 

A união faz a luta

No último dia 14 de janeiro, os Conselhos de Caciques dos Territórios de Barra Velha, Coroa Vermelha e Comexatibá  se reuniram para fazer alinhamentos e incluir novas lideranças no movimento. O propósito do encontro foi unir forças e unificar os Conselhos para resolução de conflitos nos territórios. "Um dos encaminhamentos da reunião foi a elaboração de documentos que já serão enviados para o Ministério dos Indígenas, para FUNAI e para Superintendência", comemora o Cacique.

O encontro reuniu além de lideranças indígenas, autoridades e integrantes da Polícia Militar da Bahia. "Os crimes de invasão de terras e agressões aos nossos povos foram denunciados com o pedido de participação da Polícia Federal para também atuar na área", declara o líder Pataxó que comemora os desdobramentos do encontro e diz que o próximo passo é assegurar a viagem a Brasília para definição sobre a demarcação dos territórios indígenas no Extremo Sul da Bahia.

Com 80% do território total já ocupado pelos indígenas Pataxó na Aldeia Quero Ver, através da autodemarcação, Valzinho Pataxó tem o sonho de recuperar os 20% restantes. Seu desejo é que isso se conclua e que a demarcação permita aos indígenas uma vida de  paz.  "O território Barra Velha tá em processo de demarcação. Já foi estudado e reconhecido como território indígena. Foi publicado no Diário Oficial da Bahia. Falta, agora, a assinatura da carta declaratória pelo Ministro da Justiça para finalizar a demarcação", enumera Valzinho na contagem regressiva por esse dia.

(Com informações do G1 - Brasil de Fato)

Siga no Google News

Postar um comentário

0Comentários

Postar um comentário (0)

#buttons=(Ok, estou ciente!) #days=(20)

Nosso site usa cookies para melhorar a experiência de navegaçãoSaiba Mais
Ok, Go it!