Quatro indígenas Yanomami morrem por complicações de malária e desnutrição

Entre os mortos havia três mulheres e um adolescente de 16 anos.
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FRANCISCO COSTA
22 fevereiro 2023
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Comunidade na Terra Indígena Yanomami. — (Foto: Alexandro Pereira/Rede Amazônica/Arquivo)

Quatro indígenas Yanomami morreram em Boa Vista e foram levados em caixões para a Terra Yanomami nesta segunda-feira (21). As vítimas, três mulheres, de 45, 49 e 63 amos, e um adolescente, de 16, tiveram complicações causadas por malária e desnutrição.

A informação acerca das mortes foi divulgada pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami. Os corpos do adolescentes e da mulher de 49 anos foram levados para comunidades na região de Surucucu, enquanto os corpos das outras duas vítimas foram levados para Awaris, onde moravam.

Todos estavam no Hospital Geral de Roraima (HGR), onde faziam tratamento, mas não resistiram. A mulher de 45 anos morreu no sábado (18), enquanto os outros três na segunda-feira (20).

Imagens divulgadas peloCondisi-YY registraram o momento em que os caixões chegaram no território e foram retirados do avião. Malária e desnutrição grave são as duas maiores ocorrências na crise de saúde Yanomami, agravada pelo avanço de garimpos ilegais.

"Hoje entregamos os corpos para as suas comunidades. Esses pacientes estavam com malária e desnutrição e tinham sido removidos para Boa Vista", disse Hekurari em vídeo à Rede Amazônica.

Agora, os corpos passarão pelo ritual fúnebre tradicional do povo Yanomami. O ritual, chamado Reahu, que dura semanas. O processo fúnebre envolve deixar o corpo na floresta, para que se decomponha. Depois, o funeral segue com a cremação dos ossos e, então, as cinzas são guardadas até serem enterradas, na despedida final.

Há um mês o território Yanomami está em estado de emergência na saúde pública. Indígenas Yanomami enfrentam uma grave crise sanitária causada pelo avanço do garimpo ilegal e pelo descaso do governo Jair Bolsonaro nos últimos quatro anos. A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) apuram indícios de genocídio contra o povo Yanomami e omissão de socorro.

Desde o dia 16 de janeiro, equipes do Ministério da Saúde e Força Aérea Brasileira fazem o resgate de crianças nas comunidades e mandam para Boa Vista os casos que precisam de internação. Nos quadros mais graves, as crianças são internadas na única unidade de atendimento infantil.

O atendimento médico é realizado com atenção especial às suas particularidades culturais e necessidades de saúde específicas. Uma parte da equipe médica que atua na unidade já trabalhou nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei), que receberam treinamento para lidar com as especificidades da cultura e saúde indígenas.

Crise humanitária Yanomami

A Terra Yanomami tem mais de 10 milhões de hectares distribuídos entre os estados de Amazonas e Roraima, onde fica a sua maior parte. São cerca de 30 mil indígenas vivendo na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades.

A presença do garimpo, principalmente nos últimos quatro anos, na gestão de Jair Bolsonaro, provocou a disseminação de doenças, levando a um cenário de crise humanitária.

Em janeiro deste ano, o presidente Lula esteve em Roraima para acompanhar a crise sanitária dos Yanomami. Na ocasião, ele prometeu pôr fim ao garimpo ilegal na Terra Yanomami. Ele classificou a situação dos indígenas doentes como desumana.

A região está em emergência de saúde desde 20 de janeiro e, inicialmente, por 90 dias, conforme decisão do governo Lula. Órgãos federais auxiliam no atendimento aos indígenas.

As ações de desintrusão — expulsão dos garimpeiros do território — são coordenadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Com o início das ações de repressão contra a atividade ilegal, como o controle do espaço aéreo, garimpeiros tentam deixar a região. (G1)

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