Brasil lidera queda global de emissões do setor elétrico em 2022

Redução ocorre após aumento recorde da poluição em 2021 causado por termelétricas
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FRANCISCO COSTA
12 abril 2023
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Poluição industrial (© Pixabay)

Um relatório que está sendo lançado nesta quarta-feira (12), no Reino Unido, revela que o Brasil viveu a maior queda absoluta do mundo nas emissões do setor elétrico em 2022. De acordo com a análise, o mix elétrico brasileiro emitiu 69 milhões de toneladas de CO2 no ano passado, uma queda de 34% (-36 MtCO2) em relação a 2021, quando emitiu 105 milhões de toneladas. Apenas a Ucrânia, que está sob ataque russo, viu declínio percentual comparável (-38%), com a segunda maior redução nas emissões (-14 MtCO2).

A análise é do think tank britânico Ember, um dos mais influentes do setor de energia. A organização afirma que a redução de emissões do Brasil em 2022 se deveu principalmente à diminuição do uso de termelétricas em função do aumento, de um ano para o outro, da geração hidrelétrica (+65 TWh, +18%). A hidroeletricidade em 2021 (363 TWh) estava em seu nível mais baixo desde 2015, e com a volta das chuvas em 2022, atingiu o nível mais alto desde 2011 (428 TWh).

Em 2021 houve um recorde histórico de emissões no setor elétrico brasileiro. As usinas termelétricas movidas a combustíveis fósseis -- os principais causadores do aquecimento global -- foram acionadas de maneira emergencial no ano retrasado porque o planejamento energético nacional falhou em incorporar a variabilidade gerada pela mudança climática e em buscar antecipadamente alternativas mais limpas e baratas.

Outro fator que contribuiu para a queda de emissões da rede brasileira no ano passado foi o crescimento da geração do vento (+8,5 TWh, +12%) e do sol (+5 TWh, +30%). As duas fontes permitiram uma substituição da energia fóssil, principalmente do gás (46%; -42 TWh).

“A crise global do gás em 2022 deixou claro que combustíveis fósseis caros não podem ser confiáveis para a segurança energética a curto ou longo prazos", avalia a analista sênior de eletricidade da Ember, Małgorzata Wiatros-Motyka, principal autora da pesquisa.

"Este é o efeito sanfona das emissões do setor elétrico brasileiro: a maior queda do mundo em 2022 precedida por uma das maiores altas em 2021”, observa o pesquisador do Instituto ClimaInfo, Shigueo Watanabe Jr., que ressalta que o Brasil precisa enfrentar o lobby fóssil para manter as emissões do setor elétrico neste patamar baixo. “Pela pressão climaticamente irresponsável do setor do gás natural, as emissões podem se estabilizar em um patamar pior do que o atual e muito longe das metas nacionais de redução de emissões."

“Para superar essa gangorra, que pode acontecer novamente no futuro, é preciso priorizar de maneira assertiva quais fontes complementarão a hidreletricidade”, avalia Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) e do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG). “Tem se observado uma certa aposta no gás, o que acaba por ocupar o espaço de usinas eólicas e solares. Para reduzir suas emissões de forma sustentada, o Brasil precisa reverter essa tendência, e estruturar o sistema para acionar termelétricas apenas em último caso.”

De acordo com os dados do operador do sistema elétrico nacional (ONS), o Brasil gerou 89% de sua eletricidade a partir de fontes limpas em 2022, o que inclui também 63% de energia hidrelétrica e 12% de energia eólica. Os combustíveis fósseis representavam 11% da geração brasileira em 2022, principalmente o gás (7%).

"A crescente capacidade eólica e solar do Brasil já está fornecendo eletricidade substancial para a rede. Como elas continuam a crescer, estas tecnologias ajudarão não apenas a reduzir as emissões do setor elétrico, mas também a impulsionar cortes de emissões em toda a economia com a eletrificação de outros setores", estima Wiatros-Motyka.

Mundo com mais sol e vento

Globalmente, a energia somada de eólica e solar atingiu um recorde de 12% da eletricidade em 2022, contra 10% em 2021. Em toda a América do Sul, Uruguai (36%) e Chile (28%) têm as maiores quotas de energia eólica e solar. Os dados revelam que mais de sessenta países geram atualmente mais de 10% de sua eletricidade a partir do vento e do sol, incluindo o Brasil (15%) e a Argentina (12%).

A Solar foi a fonte de eletricidade que mais cresceu no mundo pelo 18 ° ano consecutivo, aumentando 24% de um ano para outro e adicionando eletricidade suficiente para abastecer toda a África do Sul. A geração eólica aumentou 17% em 2022, o suficiente para energizar quase todo o Reino Unido.

Apesar da crise mundial do gás e dos temores de um retorno ao carvão, o aumento do vento e da energia solar limitou o uso de carvão, que subiu apenas 1,1% em 2022. A geração global de energia a gás caiu muito ligeiramente em 2022 (-0,2%). Em geral, isso ainda significou que as emissões globais do setor elétrico aumentaram em 1,3% em 2022, atingindo um recorde histórico.

Fim da eletricidade fóssil

A Ember estima que o ano passado pode ter sido o "pico" das emissões de eletricidade e o último ano de crescimento da energia elétrica fóssil, com a eletricidade renovável atendendo a todo o crescimento da demanda em 2023. Como resultado, haveria uma pequena queda na geração de eletricidade fóssil (-0,3%) em 2023, com quedas maiores nos anos subsequentes, à medida que a implantação eólica e solar se acelera.

"Esta década decisiva para o clima é o início do fim da era fóssil. Estamos entrando na era da energia limpa", sentencia Wiatros-Motyka. “O cenário está preparado para que o vento e a energia solar alcancem uma ascensão meteórica até o topo. A eletricidade limpa irá remodelar a economia global, do transporte à indústria e mais além.”

Esta é a quarta edição do relatório anual Global Electricity Review, que avalia 78 países, representando 93% da demanda global de eletricidade. Os dados são abertos para consulta.

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