Seca muda o cenário e a vida na Amazônia (© Bruno Kelly / Greenpeace) |
A seca histórica na Amazônia é um evento já esperado pelos especialistas e, sobretudo, pelas populações tradicionais, que há anos veem que o ecossistema amazônico está alterado, causado por interferências humanas. Mas, a pergunta que não quer calar é: por que esse evento de falta extrema de água nos rios está acontecendo?
Evolução de poluentes na Amazônia |
Segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente, oito entre os 10 municípios que mais emitem gases de efeito estufa estão na região amazônica; São Paulo e Rio de Janeiro são os únicos de fora da Amazônia. Ainda de acordo com a entidade, no ano de 2019, os 10 municípios emitiram, juntos, 198 milhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e), mais que todas as emissões de países como Peru e Holanda.
A solução divulgada para o problema está pautada na questão puramente econômica de transporte de produtos nas hidrovias amazônicas, deixando de lado até a geração de eletricidade.
A solução, além de inusitada, é uma simplificação do problema, que não resolve a questão, e, sim, produz outros. A proposta seria aumentar a área de navegação através da dragagem do leito dos rios amazônicos. Peguemos o rio Madeira como exemplo para ilustrar tal situação: por ser um rio em formação e que possui muitos sedimentos, produz um ambiente de navegação variável com bancos de areia e sedimentos, bem como as margens são variáveis e pouco rígidas.
Assim, o sistema que envolve o rio, fluxo de água, leito do rio, sedimento, barranco e margens estão interligados. Por isso, ao fazer uma intervenção no leito do rio com dragagem produzirá alterações em todos os outros. Ou seja, ao dragar o rio, o barranco e as margens serão afetados e ficarão instáveis, agregando-se nesta equação o fenômeno das Terras Caídas, com possíveis desmoronamentos dos barrancos, margens e casas.
Como exemplificado, dragar o rio não resolverá o problema da navegação e da falta de água. Assim, como destacado acima, os problemas da falta de água são resultantes em maior medida das causas endógenas resultantes dos impactos ambientais na Amazônia; ou seja, é possível resolver porque pode ser resultado de gestão e governanças para eliminar esses impactos.
Por fim, não interessa divulgar as reais e principais causas da falta de água na Amazônia, porque são as elites econômicas e políticas da região que mais derrubam as florestas, transformam florestas em pastos ou em monocultura de soja, e que também barram os rios.
Resumindo, as causas endógenas deveriam ser objeto de atenção na Amazônia, primeiro que há possibilidade de governança sobre elas, seja porque estes eventos afetam diretamente o microclima, seja porque se não mexer nestas questões, os eventos climáticos serão ainda mais intensos daqui para frente.
Artur de Souza Moret é graduado em Física e Química. Doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos. Ex-pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), assumiu a Coordenação-Geral de Planejamento Acadêmico, Pesquisa e Inovação da Secretaria de Educação Superior do MEC.