Brasil não consegue parar violência no campo

Quase todos os meses ou semanas protetores da natureza são vítimas de agressores
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FRANCISCO COSTA
15 novembro 2023
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Indígena morto no Pará (Divulgação)

PARÁ - Semanas intensas de mortes e ameaças contras os povos tradicionais continuam ocorrendo de Norte a Sul do Brasil. Os últimos dias foram de derramamento de sangue em várias comunidades do país. Mesmo após mudanças no governo brasileiro, o crime contra pessoas que moram no campo não recuou.

O indígena Agnaldo, da etnia Turiwara, foi assassinado a tiros ao amanhecer da sexta-feira (10-11-23), dentro das terras que a empresa Agropalma diz ser dona, na divisa dos municípios do Acará com Tailândia, na região do Baixo Tocantins, nordeste paraense. Outro indígena identificado como Jonas,  foi atingido na cabeça e sobreviveu.

Um terceiro índígena, José Luís, levou um tiro no peito, mas foi salvo pelo medalhão do cordão que usava, que amorteceu o impacto da bala. Os três faziam parte de um grupo que sofreu uma emboscada no Vale do Acará, onde a entes a Agropalma possui plantações de dendê, O crime foi registrado por volta de 5h da manhã de sexta.

A comunicação social do Ministério Público Federal (MPF) no Pará informou que assim que tomou conhecimento da morte, a procuradora da República, Meliza Alves Barbosa Pessoa requisitou à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar o caso.

De acordo com informações dos moradores, as vítimas seguiam em suas motos por uma antiga trilha, na direção da floresta, em busca de alimentos, como caça e pesca. Depois da morte e atentados, Polícia Militar e a Polícia Civil se negaram a prestar apoio, alegando que não poderiam entrar nas terras da empresa sem autorização.

Os seguranças da empresa danificaram motocicletas dos indígenas e ainda roubaram o telefone celular do morto. Depois do ataque, outros “seguranças chegaram e fecharam a estrada, deixando o grupo indígena encurralado até o anoitecer, sem socorro, comida ou água”, disse uma testemunha. 

Na Delegacia da Polícia Civil local, depois de muita insistência, a autoridade policial providenciou a remoção do corpo de Agnaldo para o Instituto Médico Legal de Tucuruí. A Agropalma informou que “está aguardando a investigação dos fatos pelos órgãos competentes. A empresa se coloca à disposição das autoridades e irá colaborar com a elucidação dos acontecimentos”.

BAHIA

Um homem e três mulheres da mesma família foram assassinados no domingo (12-11-23) na comunidade quilombola Casinhas, zona rural de Jeremoabo, cidade do sertão da Bahia a 385 km de Salvador. A família foi encontrada morta com disparos de arma de fogo dentro de um carro na estrada que dá acesso ao povoado.

As vítimas foram identificadas como Flavia Nunes de Jesus, 32, Dominga Maria de Jesus Silva, 68, Judite Angelina de Jesus Santos, 74, e Eguinaldo de Jesus Silva, 43. Uma quinta vítima, também ferida pelos disparos de arma de fogo, foi socorrida para um hospital da região –não foram divulgadas informações sobre o seu estado de saúde.

Em nota, a Polícia Militar informou que foi acionada no início da manhã de domingo e encontrou os corpos com marcas de disparos. O local foi isolado para a realização de perícia. O caso será investigado pela Polícia Civil, que informou que está com equipes em campo realizando diligências investigativas para esclarecer as mortes.

Em nota, a Polícia Civil disse que apurações iniciais apontam indicativo de autoria e que a principal linha investigação a disputa entre famílias da comunidade.

O povoado de Casinhas, em Jeremoabo, foi certificado em 2010 como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares. Dede então, a comunidade luta pela titulação das terras.

A Bahia, estado com maior número de mortes violentas do país em números absolutos, enfrenta um cenário complexo na segurança pública que desafia o governador Jerônimo Rodrigues (PT).

Além de estar presente em suas periferias urbanas, a criminalidade também se espalha por áreas rurais, com uma escalada de conflitos fundiários que se agravou nos últimos anos e segue provocando mortes e tensão em territórios conflagrados.

Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, a Bahia registrou no ano passado 99 conflitos agrários em áreas que chegam a 275 mil hectares, onde moram cerca de 9.500 famílias.

Ao todo, 27 pessoas foram ameaçadas de morte devido aos conflitos e três foram assassinadas. Neste ano, foram registradas mais três mortes violentas de indígenas e quilombolas.

Dados da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos), apontam que ao menos 11 quilombolas foram assassinados na Bahia nos últimos dez anos.

O governo da Bahia criou neste ano uma coordenação de mediação de conflitos fundiários na Polícia Civil, que terá mais estrutura para atuar em casos que envolvem comunidades tradicionais. (Com informações da Folha de São Paulo)

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