Indígenas são cruciais no desafio climático, diz Sonia Guajajara

Ministra brasileira dos Povos Indígenas cumpriu agenda na Itália
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FRANCISCO COSTA
18 março 2024
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Povos indígenas em Brasília - DF (Agência Brasil)


“No mundo, 85% da biodiversidade está habitada e está sob a responsabilidade dos povos indígenas, que representam apenas 5% da humanidade. Onde há povos indígenas, a água é limpa e as florestas ainda estão de pé, portanto, sua presença é necessária.

Seu conhecimento tradicional é o único que atualmente nos oferece a chave para enfrentar a crise climática”, afirma em entrevista à Ansa Brasil Sonia Guajajara, a ministra brasileira dos Povos Indígenas, escolhida pelo presidente Lula como voz da Amazônia e de seus povos originários.

Com um cocar na cabeça, o tradicional adorno indígena com penas, Guajajara – cujo sobrenome é também o nome de seu povo, que ocupa uma porção da floresta no estado nordestino do Maranhão – concede a entrevista nos salões renascentistas da embaixada do Brasil em Roma, no Palazzo Pamphilj na Piazza Navona. Ontem (15) ela teve uma audiência com o papa Francisco, à margem de um seminário organizado pela Pontifícia Academia de Ciências e a Academia de Ciências Sociais, sobre culturas tradicionais e seu confronto com a ciência moderna, com a presença de líderes indígenas, acadêmicos e eclesiásticos.

“Para nós, o Papa é muito importante exatamente pela força com que se expressa sobre os temas atuais. Sua posição a favor do meio ambiente e dos povos indígenas fortalece a luta por sua sobrevivência e direitos”. E contribui para “tornar toda a humanidade mais consciente da importância desses temas na luta contra a pobreza, violência, crise climática e humanitária, e também na necessidade urgente de mudar o sistema alimentar”, explica Guajajara.

No Brasil, 1,7 milhão de indígenas vivem em um território tão vasto quanto a Amazônia. O resto do mundo está superpovoado.

Como pode-se estender esse princípio ao resto da humanidade? “Trata-se de diferentes formas de ver. Não se pode comparar a cultura de quem vive na cidade com a de quem vive na floresta. Quando dizemos que os indígenas estão ameaçados, a biodiversidade também está. E se a biodiversidade está ameaçada, toda a humanidade está em risco”, responde a ministra.

“Hoje, é necessário que a humanidade esteja mais consciente de que é importante garantir o território dos indígenas e sua demarcação como uma das últimas soluções para conter a crise climática. É óbvio que temos muitas terras no Brasil, mas estão mal distribuídas. O Brasil deve regularizar esses territórios e descentralizar o uso da terra.”

“Atualmente, temos 13% do território nacional reconhecido como terra indígena, ao mesmo tempo, no entanto, 46% das terras em meu país estão nas mãos da propriedade privada. A biodiversidade depende desses 13%. Ao reivindicar o usufruto dessa terra, os povos tradicionais estão oferecendo um benefício a toda a humanidade, garantindo que as árvores não sejam derrubadas, que não haja a ação dos garimpeiros, os mineradores ilegais que destroem o território”, continua Guajajara.

Ameaças estas que não diminuíram com o governo Lula, porque no Congresso, ambas as câmaras estão nas mãos de uma maioria conservadora, mais forte do que durante a presidência de Jair Bolsonaro. Uma maioria em que o lobby defende os interesses das empresas mineradoras, mas principalmente da agricultura intensiva.

Em 2025, o Brasil sediará a conferência sobre o clima COP30 em Belém, no coração da floresta amazônica: “Chegou a hora de a Amazônia falar ao mundo, em vez de o mundo falar à Amazônia, dizendo o que deve e não deve ser feito”, diz Guajajara ao se despedir, explicando que o cocar com penas multicoloridas “marca nossa identidade, na vida cotidiana e durante eventos importantes, dando força à nossa presença e nossa palavra”.

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