Ameaças e perseguições contra populações da floresta continuam acontecendo em Rondônia. Os agressores agem para expulsar e intimidar os povos tradicionais de seus territórios. Se utilizam de ações violentas para expandir ao arrepio da lei monoculturas como soja, destroem a floresta para criar gado e vender os animais para frigoríficos internacionais, fazem especulação imobiliária.
No último sábado (20), na Terra Indígena (TI) Zoró, uma camionete de propriedade de Zan Zoró, liderança do povo, foi incendiada. Os indígenas dizem que o ataque foi provocado por grileiros, madeireiros ou invasores que não querem sair da TI.
A Terra Indígena fica localizada na divisa de Rondônia com o Mato Grosso. De acordo com a ativista ambiental Neidinha Bandeira, houve ainda disparos contra a casa da liderança indígena, ninguém foi atingido ou ferido.
Bandeira falou que os indígenas esperam providências, investigação das autoridades e querem garantias de segurança, proteção. Um dos agressores continua dentro do território fazendo ameaças. “Eles (indígenas) querem urgente que Funai, Ibama e Polícia Federal vão lá prender os invasores”. Até a manhã desta terça-feira (02) a situação de crise permanecia sem solução.
“Até hoje não foram lá, mas o que se sabe é que os madeireiros continuam dentro da terra indígena como se fossem donos, sem temer nada e ameaçando os Zoró. Por sorte, ninguém foi atingido pelos tiros, porém me pediram para denunciar esse fato porque não estavam conseguindo ser ouvidos”, declarou Neidinha para o Rondoniaovivo.
CONFLITOS SEM FIM
Rondônia é o maior cenário do Brasil de conflitos agrários, crimes ambientais e violência nos territórios indígenas. O Estado já registrou mortes de lideranças indígenas e permanence com intensas disputas por terras. Dados do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (Cedoc), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), apontam que o estado ficou em 3º lugar em número de conflitos por terra na Região Norte em 2022 (com 78 conflitos), atrás apenas do Amazonas e Pará.
Já em 2023, o estado registrou o maior número de assassinatos no campo ao longo do ano, com 5 vítimas fatais, todas sem-terra em acampamentos. A especulação do agronegócio traz desmatamentos e violência principalmente na região conhecida como AMACRO, na divisa com os estados do Amazonas e Acre.
Dados de um estudo inédito do Greenpeace Brasil feito em 2023 com imagens de satélite identificaram uma área de desmatamento na região que ficou conhecida como a maior "Fronteira de Desmatamento" do país, entre os estados da Amazônia, Acre e Rondônia denominada "Amacro".
Foram identificados 27 planos de manejo que derrubaram uma área florestal nesses três estados. Segundo o estudo, 16 destes planos estavam dentro de terras públicas federais não-destinadas, ou seja, onde não era permitido haver sequer o manejo autorizado justamente pelo fato de se tratarem de terras públicas, que deveriam ser preservadas. Manejo florestal de terras ocorreu de forma ilegal mesmo após a descoberta das fraudes em mais de 3.500 hectares - parte destes em áreas públicas.