"Repúdio a este desgoverno", diz Maria Petronila, coordenadora Pastoral da Terra em Rondônia

"Quem mais matou trabalhadores em luta pela a terra, foi o próprio estado".
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FRANCISCO COSTA
30 junho 2022
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Maria Petronila, coordenadora da CPT de Rondônia (Foto de Francisco Costa - @FCostaReal)

A Comissão Pastoral da Terra de Rondônia (CPT), apresentou o caderno de conflitos agrários de 2021, que é o maior mapeamento do Brasil pela disputa de terra. A CPT é uma organização indenpendente vinculada a Igreja Católica. 

Maria Petronila coordenadora da CPT no estado falou emocianada de mais uma morte no campo. 

O trabalhador rural Wesley Flávio da Silva, 37 anos de idade, foi assassinado por volta das 9h da sexta-feira (17 de junho) no projeto de assentamento Nova Esperança, localizado na divisa dos municípios de Campo Novo com Governador Jorge Teixeira, distante 322 quilômetros de Porto Velho (RO). Wesley era presidente da Associação de Produtores Rurais Nova Esperança há menos de um ano.

De acordo com informações prestadas à polícia, Wesley tinha chegado no começo da manhã no barracão da Associação, acompanhado da esposa e um dos filhos. O atirador desceu de uma motocicleta, parou na frente da Associação, ficou mexendo no próprio celular e apertou a mão da vítima. Quando Wesley estava entrando no escritório foi atingido por disparos de arma de fogo pelas costas.

Foram localizados oito cartuchos de pistola deflagrados no local da morte. Wesley foi atingido na cabeça. Depois foi baleado no rosto e no peito. O líder rural morreu antes de receber socorro médico.

Para a polícia, testemunhas disseram que o atirador era branco, sem barba, vestia camisa vermelha, usava boné, e dirigia uma motocicleta (modelo NXR 160 Bros, de cor vermelha com branco). O pistoleiro ameaçou a esposa de Wesley e na fuga foi visto pela cidade, mas não capturado. O crime deverá ser investigado pela delegacia de polícia civil de Ariquemes.

Wesley vinha sofrendo ameaças de fazendeiros da região, o que fez ele mudar de cidade

Wesley era casado, pai de dois filhos de 10 e 13 anos, e foi secretário de obras na cidade de Governador Jorge Teixeira. Segundo amigos, Wesley tinha uma propriedade rural onde plantava e colhia para subsistência e comércio local. O corpo dele foi sepultado no último  sábado (18) em Governador Jorge Teixeira.

Após ameaças de fazendeiros locais, Wesley tinha se mudado com a família para a cidade mais próxima, Campo Novo. Mas sempre retornava para Governador Jorge Teixeira, onde tinha plantações e era a base do acampamento dos trabalhadores rurais, onde foi assassinado.

IMPUNIDADE 

"O sentimento é de muita revolta com o estado brasileiro, que governa o país para uma meia dúzia de privilegiados, que são carrascos, comentem seus crimes porque tem a impunidade como certa. Isso precisa acabar", diz Petronila.

"Quem mais matou trabalhadores em luta pela a terra, foi o próprio estado, através de seu projeto de salvarguardar a indevida apropriação da terra pelo latifúndio", comentou a coordenadora da CPT. 

No seu protesto Maria Petronila manifestou sua revolta com a impunidade no campo. "Quero registrar meu repúdio a este desgoverno, a essas autarquias de faz de conta. O Incra que nada tem feito para garantir minimamente a efetivação da política de distribuição de terras para quem nela precisa viver. Repudiar o despreparo da polícia, prefiro falar despreparo, do que falar de criminosa". 

E também cobrou ação e justiça do poder público. "Quero dá o ultimato ao Ministério Público Estadual. Não dá pra aceitar de bico calado quase cem mortes em dez anos, sem investigação, se uma resposta a sociedade, aos familiares. O MP precisa ser provocado", finalizou.

Nos últimos três anos, 15 pessoas foram mortas por conflitos no campo em Rondônia, a federação brasileira com maior criminalidade na zona rural. Em 2021 houve registro de 11 mortes, oito foram cometidos por policiais militares.

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