Segundo o IBGE, 56% da população brasileira é preta ou parda - (Foto: Igor Carvalho) |
Oito ocuparão cadeiras na Câmara dos Deputados e 18 em assembleias legislativas nos estados da Bahia, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo. Juntos, os candidatos eleitos receberam cerca de quatro milhões de votos.
Os deputados federais são Valmir Assunção (PT-BA), Dandara Tonantzin (PT-MG), Carol Dartora (PT-PR), Benedita da Silva (PT-RJ), Henrique Vieira (PSOL-RJ), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Denise Pessôa (PT-RS) e Erika Hilton (PSOL). Esta última, a segunda mais votada do PSOL em São Paulo, será a primeira mulher negra trans a ocupar uma cadeira no Congresso Nacional.
“No estado do Rio de Janeiro inteiro, pessoas apaixonadas foram para a rua combater o fundamentalismo, combater o racismo, celebrar a diversidade e abrir uma janela de futuro”, afirmou Vieira em sua rede social. Brasília terá, disse, “um pastor preto, artista, de esquerda, como fruto de um projeto coletivo”.
Outros candidatos atuantes no movimento negro, como Douglas Belchior e Tamires Sampaio, ambos postulantes ao legislativo federal pelo PT paulista, não conseguiram votos suficientes.
Entre os deputados estaduais eleitos, está Renato Freitas (PT-PR) que chegou a sofrer ameaças de morte e acusação de quebra de decoro durante seu mandato como vereador, por ter participado de um ato em protesto às mortes de Moïse Kabagambe e Durval Teófilo Filho.
Com 92 mil votos, Olívia Santana (PCdoB), que foi a primeira deputada estadual negra da Bahia, foi reeleita e vai agora para seu segundo mandato. Na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), localizada na cidade mais negra fora da África, Olívia será - de novo – a única parlamentar negra.
“Nós somos seres coletivos. E é como seres coletivos que vamos adentrar o parlamento”, afirmou, no lançamento do “Quilombo nos parlamentos”, a secretária executiva do Conselho do Povo de Terreiro do Rio Grande do Sul, Iyá Sandrali.
“Projeto do movimento negro para o Brasil”
Com o objetivo de reduzir a hegemonia branca no poder legislativo, eleger lideranças do movimento negro e “contribuir para um projeto de país alinhado à luta contra o racismo”, a iniciativa apoiou 120 candidaturas em 24 estados brasileiros. Elas foram indicadas por algumas das 250 entidades que compõem a Coalizão.
A estratégia de ampliar a presença de ativistas do movimento no aparato estatal começou em 2020 e, em 2022, acontece pela primeira vez em eleições gerais. As ações envolveram apoio com comunicação e a busca de recursos para as candidaturas, que foram do PT, PSOL, PSB, PCdoB, Rede, PDT, Unidade Popular (UP) e PV.
“Não se trata de lutar por um projeto de Brasil para os negros, e sim por um projeto do movimento negro para todo o Brasil. Essa luta não é só a mais antiga deste país: é a mãe de todas as lutas contra a desigualdade e as injustiças sociais”, explica manifesto do “Quilombo nos parlamentos”.
“Nós, enquanto movimento, exercemos um papel importante de monitoramento social e de construção de política pública”, diz Antônio Crioulo, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), em texto em que a organização apoia as candidaturas vindas destas comunidades tradicionais.
“Mas o espaço de representatividade com a caneta implementa esta vontade nos processos de construção de política e de monitoramento”, conclui.
Do total de 14.712 candidatos autodeclarados pretos ou pardos nesta eleição de 2022, 525 foram eleitos no último domingo. Esse número representa um aumento de 10,78% em relação a 2018. (Brasil de Fato)