"Índio do buraco" morreu de causas naturais, segundo laudo da Polícia Federal

Nas últimas imagens do indígena vivo, ele aparece esquálido, utilizando um ‘cajado’ como apoio
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FRANCISCO COSTA
20 janeiro 2023
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Último descendente da etnia Tanaru morreu de causas naturais

Quatro exames realizados pela perícia criminal federal da PF (Polícia Federal) e concluídos em novembro e dezembro do ano passado, aos quais a Agência Pública teve acesso, não chegaram a uma conclusão definitiva sobre a causa. Mas um deles apontou “natural/não traumática” como “a hipótese mais provável” para a morte do indígena isolado de Rondônia que ficou conhecido como “índio do buraco”.

Ele era considerado um símbolo da resistência dos povos indígenas isolados no país. Por mais de 25 anos, no mínimo, recusou qualquer contato com não indígenas e indigenistas da Funai, até ser encontrado morto, no ano passado, na palhoça em que vivia num território de 8 mil hectares de uso restrito que incide sobre quatro municípios de Rondônia (Chupinguaia, Corumbiara, Parecis e Pimenteiras do Oeste).

O corpo, deitado numa rede em posição fetal, com a cabeça inclinada para a esquerda, a mão esquerda perto da cabeça e a direita sobre o peito, foi localizado em 23 de agosto passado pelo indigenista Altair Algayer, da equipe da FPE (Frente de Proteção Etnoambiental) Guaporé, vinculada à CGIIRC (Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato) da Funai (Fundação Nacional do Índio). Algayer, que por mais de duas décadas protegeu e monitorou o “índio do buraco”, acionou a PF e o MPF (Ministério Público Federal).

O trabalho dos peritos mobilizou, ao longo de semanas, uma dezena de peritos criminais federais do INC (Instituto Nacional de Criminalística) da PF em Brasília, para onde o corpo foi levado. Quatro deles também estiveram na palhoça. As condições do cadáver, deteriorado pela ação do tempo, dificultaram os exames. Estimou-se que ele tinha morrido de 30 a 40 dias antes do início dos exames, que ocorreram de 29 de agosto a 2 de setembro.

Nunca se soube nome, etnia, língua e idade do “índio do buraco” – mistérios que sobrevivem à sua morte e à investigação da PF. Os laudos, por outro lado, lançam luzes sobre o modo de vida e os últimos dias do indígena.

Com cerca de 1,60 m, segundo o exame, sua compleição física era de “mediana a pequena”. Tinha cabelos pretos lisos. Seu estado nutricional, e aqui surge uma pista importante para os peritos, “aparentava caquexia”. Trata-se de um grau extremo de enfraquecimento, uma perda importante de peso e de massa muscular.

Algayer encaminhou ao MPF e à PF as últimas imagens do indígena coletadas no dia 4 de junho por uma câmera de monitoramento instalada pela Funai numa roça utilizada pelo isolado para plantar principalmente mamão e milho. A câmera ajudava a Funai a prevenir, por exemplo, ação de invasores no território que vinha sendo interditado por portaria da Funai desde os anos 1990. Dois frames do vídeo mostram o índio do buraco esquálido, com os ossos do peito à mostra. Ele andava apoiado num cajado, o que reitera o estado de fraqueza.

No seu relatório, Algayer escreveu que “as imagens indicam que o índio se encontrava com o corpo debilitado, mais magro, com a pele flácida e mais clara”. (Agência Pública)

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