Ativistas do Greenpeace Brasil e lideranças indígenas realizam uma manifestação pacífica em frente à fábrica da Hyundai, em Itatiaia, Rio de Janeiro (Greenpeace) |
Entre 2010 e 2021, o garimpo em terras indígenas cresceu 632%. O novo relatório do Greenpeace aponta que esse aumento vertiginoso foi catalisado pela chegada de equipamentos que profissionalizaram a atividade, tais como as escavadeiras hidráulicas, que são utilizadas para cavar enormes buracos em poucos dias e para abrir clareiras na floresta.
O que diz o relatório
O levantamento do Greenpeace Brasil revela que entre 2021 e 2023 foram registradas 176 escavadeiras em garimpos ilegais abertos nas Terras Indígenas Yanomami (RO), Kayapó (PA) e Munduruku (PA) - e as máquinas da marca Hyundai HCE Brasil estão entre as mais utilizadas: pelo menos 75 delas (mais de 42,6%) pertencem à marca da empresa. Apesar de seu alto custo de aquisição - superior a R$ 700 mil -, os equipamentos se mostram um investimento lucrativo: cada máquina pode realizar, em questão de horas, o mesmo trabalho que levaria semanas para ser feito manualmente.
Sobrevoos realizados pelo Greenpeace Brasil entre 2022 e 2023 confirmaram que a Terra Indígena Kayapó é, dentre as três terras indígenas monitoradas, a que mais sofre com o avanço da mineração ilegal e tem a maior frota de escavadeiras em funcionamento. Ao mesmo tempo, líderes da Terra Indígena Munduruku relatam a presença destes equipamentos desde 2014, coincidindo com a explosão da área minada ilegalmente dentro do seu território.
A solução existe
A Hyundai HCE Brasil possui um sistema de gerenciamento remoto, chamado Hi Mate, que utiliza GPS para coletar dados sobre suas máquinas. Com isso, usando qualquer dispositivo conectado à internet, torna-se possível localizar e até mesmo interromper o funcionamento de suas máquinas a partir de um dispositivo conectado à internet. Portanto, uma das soluções possíveis apresentadas pelo relatório está na implementação desta tecnologia de forma obrigatória.
“A tecnologia já existe, só não está sendo usada em todo seu potencial. Incorporar a implementação da tecnologia como pré-condição aos contratos de venda da empresa, por exemplo, poderia possibilitar o rastreamento de maquinários pesados operando ilegalmente em terras indígenas e outros territórios protegidos", declara Danicley de Aguiar, porta-voz do Greenpeace Brasil.
Parem as máquinas
O relatório “Parem As Máquinas! Por uma Amazônia Livre de Garimpo” foi entregue em mãos para representantes da fábrica de escavadeiras da Hyundai HCE Brasil em uma ação pública que ocorreu na manhã de hoje (12), em Itatiaia (RJ). No local, ativistas do Greenpeace Brasil e dez lideranças indígenas protestaram pacificamente exigindo que a empresa adote medidas para impedir que essas escavadeiras hidráulicas continuem entrando nas áreas protegidas. Também está no ar um abaixo-assinado convidando a sociedade civil a apoiar o movimento.
Com essas ações, a organização espera que a Hyundai HCE Brasil e outras fabricantes de escavadeiras adotem novas medidas para controlar a aquisição e o uso desses equipamentos e contribuir para a extinção do garimpo ilegal na Amazônia.
“Mais que uma denúncia, fazemos um alerta para que a Hyundai HCE Brasil faça parte da solução, e não do problema. Basta que tomem as medidas necessárias e interrompam o fluxo de fornecimento de máquinas, peças e serviços até que possam garantir que suas escavadeiras hidráulicas não estejam sendo utilizadas em garimpos ilegais responsáveis por graves impactos ambientais e reiteradas violações dos direitos humanos na Amazônia brasileira. Sabemos que é possível, basta estarem dispostos.”, declara Danicley de Aguiar, porta-voz do Greenpeace Brasil.
Dentre as lideranças indígenas que estavam presentes na ação pacífica, está Bepdjo Mekragnotire, liderança do povo Kayapó, que afirma que o garimpo ilegal trouxe diversos malefícios para seu povo ao longo dos anos.
“Eu luto pelo nosso povo, pelo nosso território, pelas nossas florestas. Não posso aceitar a destruição que o garimpo e as máquinas causam na nossa terra”, disse a liderança. Bepdjo é cacique da aldeia Baú, no território indígena de mesmo nome, situado no sul do Pará.