Um estudo recente revelou um aumento preocupante de quase 50 mil casos de agressões contra idosos em 2023, em comparação com o ano anterior.
Entre 2020 e 2023, o total de denúncias notificadas chegou a 408.395, com um aumento significativo em 2023, quando os casos ultrapassaram 143 mil.
Esses números alarmantes representam um retrocesso nos esforços para proteger essa parcela vulnerável da população.
A pesquisa e suas descobertas
A pesquisa, conduzida pelas professoras Alessandra Camacho da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Célia Caldas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), analisou dados do Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
O estudo abrangeu um período de quatro anos, de 2020 a 2023, fornecendo um panorama abrangente da violência contra idosos no Brasil.
Os principais resultados da pesquisa incluem:
Aumento contínuo: Houve um aumento constante nas denúncias de violência contra idosos ao longo dos anos analisados. Em 2023, o número de casos foi significativamente maior do que em 2022, indicando uma tendência preocupante.
Vulnerabilidade dos mais velhos: Indivíduos com 80 anos ou mais são os mais propensos à violência, representando o maior percentual de casos em 2023 (34%). Essa maior vulnerabilidade pode estar relacionada a fatores como fragilidade física e menor autonomia.
Desigualdade de gênero: As mulheres são mais afetadas pela violência, com 67% das denúncias durante o período analisado. Essa disparidade pode ser atribuída a fatores socioculturais que perpetuam a desigualdade de gênero e a desvalorização das mulheres, especialmente na velhice.
Raça e cor: Embora a população branca tenha registrado o maior número de casos, pardos também apresentaram um aumento. A pesquisa ressalta a dificuldade em identificar raça ou cor em algumas denúncias, o que pode mascarar a realidade da violência contra grupos minoritários.
Escolaridade como fator de risco: Analfabetos ou com ensino fundamental incompleto são os mais afetados pela violência, devido à falta de informação e acesso a recursos.
Violência familiar: Filhos são os principais suspeitos em casos declarados, com 56,29% das denúncias em 2023. Essa realidade complexa e preocupante exige medidas de apoio e acompanhamento familiar.
Local das agressões: A maioria das violências ocorre na residência da vítima ou do agressor, demonstrando a dificuldade de escapar da violência em um ambiente que deveria ser seguro.
Medidas e recursos para combater a violência
Diante desse cenário preocupante, as pesquisadoras defendem uma série de medidas para combater a violência contra idosos:
Análise Anual de Dados: Monitoramento contínuo das tendências e padrões da violência contra idosos para subsidiar políticas públicas eficazes.
Divulgação do Painel de Dados: Ampliar o conhecimento sobre as denúncias e políticas públicas disponíveis, através da divulgação do Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.
Capacitação de Profissionais: Preparar profissionais em diversas áreas, como saúde, segurança pública e assistência social, para identificar, acolher e atender vítimas de violência de forma adequada.
Campanhas de Conscientização: Promover campanhas educativas para conscientizar a sociedade sobre a violência contra idosos, seus impactos e canais de denúncia.
Fortalecimento da Rede de Apoio: Ampliar e fortalecer a rede de apoio a idosos, incluindo serviços de acolhimento, orientação jurídica e psicológica.
Denúncias
Para denunciar casos de violência contra idosos, existem diversos canais disponíveis:
Disque Direitos Humanos: 100
Delegacias Especializadas: Procure por delegacias especializadas no atendimento a idosos em sua região.
Ministério Público: O Ministério Público também pode receber denúncias e auxiliar na proteção dos direitos dos idosos.
Em parceria com a Faculdade de Enfermagem da UERJ, a Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da UFF lançou uma cartilha informativa e educativa sobre violência contra idosos.
Na publicação, é possível consultar a legislação brasileira sobre o tema, dados importantes e os tipos de violência que são praticados contra idosos. Quem estiver interessado pode acessar este link.
A metodologia usada na pesquisa é baseada nas diretrizes do Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology).
Alessandra Camacho informou que a coleta de dados começou por volta de janeiro do ano passado e foi concluída.
Para dar mais visibilidade ao tema, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu junho como mês da conscientização da violência contra a pessoa idosa.