Rondônia: como apostas online estão financiando o crime organizado

Investigações ao redor do Brasil apontam que controle de organizações criminosas sobre casas de apostas está por trás de disputas territoriais, ameaça
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Voz da Terra
24 junho 2024
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Grupos criminosos atuam em várias regiões do Brasil (Foto: Agência Brasil)


Investigações realizadas em diversas regiões do Brasil revelam que organizações criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), além de chefes do jogo do bicho, estão utilizando casas de apostas para lavar dinheiro e aumentar seus lucros. Essas atividades têm gerado disputas territoriais violentas, incluindo ameaças e assassinatos. Documentos obtidos pelo O GLOBO indicam que essas facções estão utilizando as apostas online, legalizadas no Brasil desde 2018 e em fase de regulamentação, para incrementar e legitimar suas receitas ilícitas. 

O Congresso aprovou no ano passado uma legislação que regulamenta e taxa as apostas esportivas online, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa lei visa coibir a entrada de recursos ilegais no mercado, mas até o momento as investigações mostram que o setor de apostas continua sendo atraente para o crime organizado. Em abril, a Polícia Federal prendeu dois parentes de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC, em uma operação que investigava a relação da facção com casas de apostas no Ceará. Um dos detidos, Leonardo Alexsander Ribeiro Herbas Camacho, promovia a Fourbet, uma plataforma de apostas, em suas redes sociais.

Os investigadores descobriram que Menesclau de Araújo Souza, responsável pela contabilidade do PCC no Ceará, gerenciava unidades da Loteria Fort no estado e utilizava material promocional da Fourbet. A Polícia Federal encontrou robustos indícios de lavagem de dinheiro envolvendo essas plataformas, com movimentações financeiras que somam R$ 301 milhões entre os investigados.

Daniel Hirata, sociólogo e coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF, afirma que as apostas online representam uma "nova fronteira" para organizações criminosas que sempre buscam diversificar suas atividades. Ele destaca que mercados com regulamentação fraca são os alvos preferenciais desses grupos, e que as apostas online permitem a movimentação de valores pequenos, mas com grande abrangência.

No Ceará, a disputa pelo controle das casas de apostas entre PCC e CV tem levado a confrontos violentos, incluindo incêndios e ataques. No Rio de Janeiro, a máfia do jogo do bicho e das máquinas caça-níqueis, liderada por figuras como Rogério Andrade, também está expandindo para o mercado de apostas online. Andrade, que foi preso pela PF em 2022, estava envolvido na criação de um site de apostas sediado em Curaçao, a Heads Bet.

Em Rondônia, a Polícia Federal descobriu em 2021 que Leandro Blumer, responsável pelo site de apostas Rondo Esportes, estava lavando dinheiro proveniente do tráfico de maconha e cocaína para o Comando Vermelho. A investigação revelou que os recursos eram inseridos na Rondo Esportes e depois disfarçados como prêmios pagos aos membros da quadrilha. 

Em um caso específico, a PF rastreou um pagamento de R$ 1,1 milhão feito à quadrilha por uma carga de 126 quilos de cocaína, interceptada a caminho de Minas Gerais. O dinheiro foi parar nas contas da Rondo Esportes, que já patrocinou um time de futebol e até abriu uma filial no Mato Grosso antes de ser suspensa pela Justiça. Apesar de ter sido preso em 2021, Blumer atualmente responde em liberdade.

A defesa dos envolvidos nega qualquer envolvimento em atividades ilegais. Leonardo Herbas Camacho afirma não participar de organizações criminosas, enquanto a defesa de Francisca Alves da Silva e de Cintia Chaves sustenta que suas atividades são legais e desvinculadas de facções. O advogado de Rogério Andrade não comentou, mas ele nega as acusações nos processos. Leandro Blumer defende a lisura das operações da Rondo Esportes, criticando a denúncia como fruto de desconhecimento sobre o mercado de apostas. O GLOBO não conseguiu contato com os demais citados.



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